sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Conversas d'Ouvido com República Popular

Entrevista com República Popular, banda brasileira de pop rock, proveniente de Manaus, Amazonas. Quarteto composto por Igor Lobo (voz, guitarra), Sérgio Leônidas (voz, baixo), Viktor Judah (voz, bateria) e Vinítius Salomão (voz, guitarra). Estabelecendo uma ponte entre o urbano e o indígena, entre o rock e folclórico, os Repúlica Popular revestem-se de um certo experimentalismo. Preparam-se para lançar o novo disco "Húmus", enquanto esse dia não chega, fomos conhecer melhor as vozes e o som da Amazónia, nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Viktor Judah (VJ): Essa é uma pergunta bem individual, mas creio que cada um de nós nasceu num berço de amantes da música. Ninguém da banda é filho de músicos ou artistas, mas nossas famílias nos incentivaram desde cedo a apreciar essas coisas. Porém os fatores mais decisivos são as primeiras vezes: a primeira vez num palco, a primeira gravação, etc. Curtir um som que a gente gosta é bom, mas fazer acontecer é incrível, tocar nosso próprio som pra uma galera que curta é indescritível.

Como surgiu o nome República Popular?
Igor Lobo (IL): Durante uma viagem que fizemos, ficamos algum tempo morando juntos e convivendo, daí o nome “República”. “Popular” faz referência ao tipo de som que almejamos fazer lá no início e do qual até hoje não abrimos mão: um som que possa ser abraçado pelo máximo de pessoas possível, um som popular.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Vinítius Salomão (VS): Nosso estilo é o que gostamos de chamar de Neo-tropicalismo-brega-experimental-synth-pop-samba-core (risos). Brincadeiras à parte, não temos uma definição muito clara ainda, mas eu diria que o termo mais correto é MPB (música popular brasileira), pois qualquer estilo pra onde a gente vá, não deixa de ser popular nem brasileiro.

Este ano vão editar “Húmus”, já podem antecipar o que podemos esperar?
Sérgio Leônidas (SL): Vai ser um álbum bem megalomaníaco, começando pelo fato de ser um disco duplo. Nas suas 24 faixas vamos tentar retratar a cultura do nosso estado do Amazonas hoje em dia. Mas veja bem, isso não vai estar impresso nas letras nem nas histórias contadas nas músicas, muitas músicas as pessoas poderão dizer “Mas o que isso tem de Amazonas?” e é aí que entra a grande questão. Nossa cultura deixou de ser apenas o regional/florestal/indígena há anos, nós queremos levar aos ouvidos uma grande mistura disso tudo, canções que vão do rock alternativo, passando pelo experimental, até chegar no folclórico.

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
VS: Eventualmente já tivemos contato com músicas que depois descobrimos ser de compositores portugueses, mas nada muito profundo.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
VJ
: Nós adoramos cinema, todos nós. Uma pretensão nossa é começar a atuar cada vez mais em nossos clipes, quem sabe fazer um filme um dia (risos). Uma curiosidade é que todos nós somos colecionadores de figuras de ação dos nossos filmes/desenhos favoritos, temos cada um sua coleção de bonecos.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
IL: A maior de todas as vantagens é trabalhar com o que se ama. Imagine, após um dia estressante de gravação ou de shows, a gente pode sentar, relaxar e pensar “valeu a pena, eu poderia ter tido essa dor de cabeça trancado num escritório, na frente de um computador, mas não, foi aqui em cima do palco, tocando pra pessoas que admiram com sinceridade o que eu faço”, isso não tem preço.
A maior desvantagem é provavelmente vivermos num mundo que ainda não sabe direito o valor que o músico tem. Há muita gente que, talvez por falta de informação, não está disposta a lidar com um profissional da música da forma correta, confunde-se muito o trabalho com hobby. Sim, a gente ama a música. Não, isso não a torna um lazer.

Quais as vossas maiores influências musicais?
SL: Nossas influências são muito divergentes, mas sempre foi unânime nossa admiração pelos grandes nomes da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento. Também os da música internacional, como The Beatles, Pink Floyd, Michael Jackson. Mas no "Húmus", nosso som vem sido bem afetado pelo que estamos escutando de música nova, como Bon Iver, Tame Impala, Radiohead (esses não tão novos assim). Devido às nossas raízes amazonenses, nós temos muito o swing do Boi-Bumbá e do Beiradão, que nos cercam desde muitos novos.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
VJ: Somos adeptos do streaming, mas ainda temos um certo apego pelos CD's, quando o álbum é muito bom, ou se gostamos muito da banda, existe aquela necessidade de comprar, de ter o material físico, como um troféu ou um souvenir.

Qual o disco da vossa vida?
VJ: Panic! At The Disco – "Pretty. Odd"
VS: Red Hot Chili Peppers – "Blood Sugar Sex Magik".
SL: System of a Down – "Mezmerize".
IL: República Popular – "Húmus".

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
VJ: Bon Iver – "22, A Million".
VS: Bon Iver – "22, A Million".
SL: Gabriel, O Pensador - "Seja Você Mesmo (mas não Seja sempre o Mesmo)".
IL: Marcos Valle & Stacey Kent - Ao Vivo.

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
VJ: Tenho escutado muito hip hop, principalmente o último disco do Kendrick Lamar, “DAMN.
VS: A trilogia “Saturation”, do Brockhampton, virou uma espécie de mantra pessoal. Descobri há pouco tempo Rex Orange County, que me cativou muito desde a primeira música com a proposta de um pop despretensioso e saudável. Com relação a trabalhos brasileiros, “Pop Banana”, da Júlia Vargas, é um disco que sempre ouço desde que um amigo me apresentou recentemente.
SL: Pop/Rock brasileiro, em geral.
IL: Black & Soul music, sem nenhum artista em específico.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
IL: Uma vez nosso violão desafinou misteriosamente, no meio da música, e precisamos interromper bem no meio, afinar de novo e voltar do início. A situação ainda foi mais tensa porque estávamos tocando uma música que estava sendo apresentada pela primeira vez ao vivo.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
VS: Caetano Veloso, Mutantes, Gilberto Gil, qualquer artista da época da Tropicália.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
VJ: Atualmente nosso som se encaixaria bem abrindo um show do Bon Iver.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
SL: No Brasil, os mais previsíveis: Rock In Rio e Lollapalooza. De internacional, seria incrível tocar no Glastonbury ou Reading Festival, ambos no Reino Unido.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
VJ: Paul McCartney, na turnê de 2013.
VS: Red Hot Chili Peppers, 2011. O show em si não foi dos melhores, mas era promoção do primeiro trabalho depois de 5 anos e volta do RIR para o Brasil, o que tornou a experiência toda muito excitante.
SL: Francisco, el Hombre no festival NEMA, 2017.
IL: Festival Folclórico de Parintins, 2008.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
VJ: Roger Waters ainda é uma meta de vida assistir ao vivo.
VS: John Frusciante.
SL: Aerosmith.
IL: Djavan.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de ter estado presentes?
VJ: Gostaria de voltar no tempo e assistir os Beatles juntos ao vivo, seria o sonho de uma vida.
VS: Existem muitos desses shows marcantes, mas acho que os Beatles no telhado por todo o contexto histórico.
SL: Qualquer show do Queen com a formação original.
IL: Queen no Rock in Rio em 85.

Têm algum guilty pleasure musical?
VS: À medida que fomos nos tornando menos imaturos na música, o que era guilty pleasure foi deixando de ser, uma vez que passamos a considerar elementos dos guilty pleasure interessantes pra, de alguma forma, fazer parte da nossa forma de compor e produzir. Sem dar nomes aos bois (risos), os guilty pleasure já foram pertecentes à axé music, brega, sertanejo...

Projectos para o futuro?
VJ: Após o lançamento do "Húmus", estamos nos preparando para fazer novos clipes e sessions. Temos planos de organizar shows bem ousados para as novas músicas. Também queremos levar o disco para todo o país, através de uma turnê por vários estados.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
IL: Acho que aqui podemos partir um pouco do nosso atual trabalho. Uma pergunta que, certamente, nos causaria uma boa brainstorm seria “O quanto vocês acham que representam o som da Amazônia?”. Nós queremos mostrar que no norte do país também temos qualidade e competitividade no ramo, que nossas produções podem se equiparar ao que é feito de melhor no restante do Brasil. Queremos acabar com o isolamento da região no cenário artístico brasileiro e fazer com que as pessoas de fora reconheçam a região através da roupagem que nós da RP damos aos nossos trabalhos. Portanto, quanto à representatividade, a meta é ser referência em termos de música amazônica contemporânea: mostrar que nós temos a cara do que de fato é a Amazônia e que a Amazônia tem a nossa cara.

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
VJ: Eu tenho uma tremenda inveja do compositor amazonense Chico da Silva por ter composto “O Amor Está No Ar”, uma toada de amor simples e extremamente expressiva.
VS: “Tocando em Frente”, de Almir Sater.
SL: “O Velho e o Moço” do Los Hermanos.
IL: "Carinhoso", Pixinguinha.

Que música gostarias que tocasse no vosso funeral?
VJ: "Hey Jude", dos Beatles.
VS: "City of Stars", Justin Hurwitz.
SL: "Curió", República Popular
IL: "Naquela Mesa", Nelson Gonçalves.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Nós que agradecemos! Foi um imenso prazer!

Terminamos ao som do mais recente single "NVMFDA"

1 comentário:

  1. Nossa adorei entrevista muito interessante respostas inteligente,isso meninos valorizem sua terra e sua música ..Vcs vão longe sucesso..

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