sábado, 14 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com Peste & Sida


Entrevista com a histórica banda portuguesa Peste & Sida, formada no ido ano de 1986. Os Peste & Sida são actualmente compostos por: João San Payo (voz, baixo), João Alves (guitarra, voz) e Sandro Oliveira (bateria, voz). A banda portuguesa de punk rock, dispensa apresentações. Após um hiato prolongado regressaram aos discos em 2004 e a chama que nunca se tinha apagado, "voltou a acender", desde então não mais pararam. Recentemente editaram o disco "Ao Vivo no RCA", que regista uma noite única, ocorrida em 2015, e que celebrou então a re-edição dos três primeiros álbuns. 2017 é ainda o ano em que "invadem" o Ouvido Alternativo, para mais um lançamento das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Recuando no tempo, como surgiu o nome Peste &  Sida?
Peste & Sida: Tínhamos terminado a nossa segunda actuação (no coreto de Sacavém, Verão de 1986) e decidimos ir para a praia da Fonte da Telha passar a noite. Sob o céu estrelado demos início a um jogo de palavra-puxa-palavra e várias hipóteses foram surgindo. Acabámos por adoptar o nome Peste & Sida que tinha algo de divertido pelo duplo sentido e algo de irreverente só pelo facto de expôr a palavra “sida” abertamente. Nessa época isso era tabu porque sendo uma doença desconhecida, a sida alarmou muitas pessoas que a viram como a praga do séc. XX que chegara para dizimar a humanidade.

Após um hiato prolongado, regressaram em 2004 com “Tóxico”, a chama reacendeu-se ou no fundo nunca se tinha apagado?
Digamos que a chama se reacendeu porque no fundo nunca se tinha extinguido totalmente. A prova disso foi quando nos finais de 2003 voltámos a tocar ao vivo, após um interregno de 8 anos, ainda antes de lançar o “Tóxico”. A sala do Santiago Alquimista teve lotação esgotada para nos confirmar que a reativação dos Peste & Sida era aguardada pelos mais fiéis seguidores da banda. Para nós foi um voto de confiança que nos deram para nos relançarmos na continuidade da banda.

O final dos anos 80, início dos anos 90, foram tão loucos como nós achamos?
Nós, quem? Vocês? … é uma questão carregada de enorme subjectividade. Os nossos avós também já relataram os anos 20 como os loucos anos 20… E o que é a loucura? As características que para uns possam ser virtudes para outros podem ser defeitos e vice-versa… contextualizando com a produção musical, houve no princípio dos anos 80 um grande desenvolvimento do pop-rock nacional e se é nesse aspecto que falamos de loucura, claro que sim. A liberdade alcançada em 74 com o 25 de Abril mudou as regras do jogo e deixou frutos. Nesses anos as grandes editoras multinacionais a operar no mercado discográfico nacional estipulavam fatias de orçamento para a produção nacional, os êxitos do Rui Veloso com o "Xico Fininho", os Xutos & Pontapés, os Taxi, os UHF, GNR, Heróis do Mar, Salada de Frutas, Trabalhadores do Comércio, Jafumega entre muitos outros abriram caminho para se fazer pop-rock em português sem preconceitos. As bandas como os Peste & Sida que vieram depois têm muito a agradecer a estas bandas.
Peste & Sida - "Ao Vivo no RCA"
Editaram recentemente o disco gravado ao vivo no RCA, para quem não esteve presente o que é que perdeu?
Foi uma noite especial porque era o concerto comemorativo da reedição dos três primeiros álbuns de Peste & Sida. Passados 30 anos o “Veneno” de 1987, o “Portem-se Bem!” de 1989 e o “Peste & Sida é que é!” de 1990 estavam nas lojas pela primeira vez em formato digital e para celebrar preparámos um set list que percorreu cronológicamente não só estes álbuns mas toda a carreira da banda. À medida que as faixas iam sendo tocadas iam entrando em palco malta amiga dos Peste & Sida que convidámos para participar na festa. Ao todo, foram 20 elementos e ex-elementos das diferentes formações que os Peste & Sida tiveram ao longo destes 31 anos e outros amigos que connosco participaram, num palco com duas baterias montadas, prontas para rockar em simultâneo. E do outro lado do palco, uma plateia em fogo, num RCA de lotação esgotada.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Peste & Sida é rock!

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Muitas…

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem de qualquer profissão é poderes fazer aquilo que realmente gostas. A maior desvantagem de qualquer profissão é teres de fazer o que mais detestas por obrigação.

Ao fim destes anos todos qual a principal lição que a vida vos ensinou?
Continuamos a aprender. Sempre a aprender!

Quais as vossas maiores influências musicais?
Ouvimos de tudo, pop-rock, jazz, clássica, étnica… somos extremamente ecléticos. Esforçamo-nos por nos restringir à boa música mas está cada vez mais difícil.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Ainda somos dinossauros do vinil. Fizemos algumas concessões aos formatos digitais em CD e hoje em dia não poderíamos correr o risco de renunciar aos leitores mp3. Actualmente, as empresas de som só passam a música que gostamos se as levarmos nessas caixinhas. Os streamings não são a nossa praia, só muito esporádicamente acedemos.

Qual o disco da vossa vida?
Há muitos! Mas para os Peste & Sida que são essencialmente uma banda de palco e que gosta de andar na estrada os discos da nossa vida são sem dúvida os melhores discos de embraiagem e discos de travões que nos ajudam a percorrer Portugal de norte a sul em segurança enquanto não nos for possível fazê-lo num disco voador! (risos)

Projectos para o futuro?
Continuar a rockar com a mesma espontaneidade e liberdade criativa que nos tem caracterizado.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.


Terminamos ao som dos Peste & Sida e do tema "Veneno", gravado precisamente ao vivo no RCA.

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