sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com The Electric Howl

Entrevista com os The Electric Howl, banda nacional que apresenta um irreverente indie rock, com retoques de um punk provocador. Quarteto lisboeta composto por Diogo Espectro (voz), Marco Montenegro (guitarra), Mr. Drum Machine (bateria) e Rui Paz (baixo). Preparam-se para editar no início do próximo mês o EP Jungle Pop, antecipamos esse lançamento, mas também falamos de influências musicais, outras paixões e projectos futuros na edição que se segue das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Marco Montenegro (MM): Durante muito tempo andei a saltar de cidade em cidade, ou por causa dos meus pais, ou pelo meu ímpeto migratório. Então a música tornou-se uma companhia constante e imprescindível.
Diogo Espectro (DE): Sempre escrevi letras para músicas, desde que me lembro, até que chegou um dia em que ganhei coragem para tentar formar uma banda.
Rui Paz (RP): Desde que tenho memória que no meu dia-a-dia está sempre algum riff ou batida a entoar na minha cabeça. Em miúdo a minha companhia era o rádio, antes de poder partir à descoberta na internet.

Como surgiu o nome The Electric Howl?
MM: A ideia foi do Diogo Espectro. Sendo admirador do Allen Ginsberg e da beat generation, ressoou-me logo e fez todo o sentido. Vivemos num mundo muito claustrofóbico e as pessoas já não falam, disparam uivos ribombantes, como relâmpagos. Uivos e descargas eléctricas é o que nós fazemos, no fundo, enquanto banda.
DE: Allen Ginsberg, e como já existia uma banda chamada The Howl, acrescentámos o Electric.
The Electric Howl - "Jungle Pop"
Este ano preparam-se para editar o EP “Jungle Pop”, já podem antecipar um pouco sobre o que podemos esperar?
MM: Será uma torrente de rock agressivo e perigoso. Tendo em conta as tendências actuais, diria que é de contra-ataque fulminante. Antevejo difícil catalogação.
DE: Vai sair em breve, são 6 músicas feitas com suor e lágrimas. São todas muitos diferentes, não existe um género específico que as caracterize, sendo que isso é o Rock N' Roll.
RP: Juntei-me a esta malta a meio das gravações, mas certamente que vão poder provar, sem aditivos, um pouco da essência desta banda.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
MM: Punk com natas e vinagre. 
DE: Amêndoa amarga com muito gelo e muito limão.
RP: Cântico das baleias a fazer reamping num twin reverb com overdrive.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
MM: Ler (sobretudo história política e social) e escrever, humor, especialmente humor negro. Sou viciado em Monty Python.
DE: Pintura, outra coisa que faço desde sempre e que inspira muitas músicas e vice-versa.
RP: Adoro ir a lojas de instrumentos só para satisfazer o meu Gear Acquisition Syndrome.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
MM: Desvantagem: contar trocos a toda hora. No meu caso, gasto uma pequena fortuna com cordas. Vantagem: Não sofremos tanta lavagem cerebral das televisões, porque passamos o tempo em volta de instrumentos e ideias para músicas.
DE: A desvantagem é que vivemos num mundo de contactos e de dinheiro. A vantagem é que estou mentalmente são graças à música.
RP: Desvantagem: Falta de tom**es para apostarem em bandas. Ou tens contactos ou esperas que alguém se dê ao trabalho de pelo menos ouvir os teus sons. Ah! e dinheiro, pois. Vantagem: É o maior escape que podes ter deste mundo.

Quais as vossas maiores influências musicais?
MM: Há muitas bandas que me influenciaram. Cito algumas, mas outras ficam certamente esquecidas: Devo, Black Sabbath, Led Zeppelin, Stooges, Velvet Underground, Pixies, Soundgarden, Sonic Youth, Dinosaur Jr., Depeche Mode, Hüsker Dü, Wipers, The Cure, Bad Brains, Black Flag, Minutemen, Slayer, Amebix, Mão Morta, Sex Pistols, The Clash, Queen...
DE: The Beatles acima de tudo, Fleetwood Mac, Soundgarden, The Velvet Underground, Hole, Alice in Chains, Patti Smith, Bob Dylan, Oasis…
RP: Wolf Alice, Rush, Red Hot.C.P., Rage Against the Machine, Pearl Jam, Incubus, Sonic Youth, The Doors, Nirvana, Black Sabbath, Led Zeppelin.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
MM: Continuo a comprar CD's, e em casa é dividido, Cd ou Mp3. Em viagem, Mp3.
DE: Vinil.
RP: Tenho ouvido muito streaming na descoberta de novos sons, mas se tivesse a conta bancária decente, vinil sem dúvida. Já devo ter o vinil dos Nirvana a ganhar musgo no leitor por não comprar mais.

Qual o disco da vossa vida?
MM: News Of The World dos Queen (1977). Ainda me lembro perfeitamente da 1.ª vez que ouvi este disco. Devia ter 9, 10 anos e foi assombroso. Mudou a minha vida decididamente. Aquelas músicas tão diferentes num disco, sem fio condutor, tão belas e repulsivas ao mesmo tempo. Foi através deste disco que cheguei ao punk e ao rock mais duro.
DE: Não tenho um disco em específico, todos os discos dos The Beatles, são todos incríveis e diferentes... Rumours de Fleetwood Mac, Live Through This de Hole.
RP: Make Yourself, dos Incubus, marcou-me imenso em puto. Foi um dos primeiros CD's originais que comprei e não o tirava do discman.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
MM: My Woman da Angel Olsen. Saiu em 2016, salvo erro. A música "Shut Up Kiss Me" é daquelas que colam na língua.
DE: Soundgarden, King Animal.
RP: Dois.... Human Ceremony dos Sunflower Bean e My Love Is Cool dos Wolf Alice

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
MM: Tenho andado a revisitar os Metallica dos 80, do Kill 'Em All ao ...And Justice For All. Recentes, estou a ouvir o disco Uncontrollable Salvation dos Pardoner, uma banda de São Francisco e Nothing Feels Natural dos Priests, de Washington D.C. Dois discos, julgo que, completamente desconhecidos ainda por cá.
DE: Soundgarden. Nenhuma.
RP: Ando a "provar" o novo álbum dos Wolf Alice, Visions of a Life. Deparei-me há uns tempos com 3 miúdos de Seattle muito bons, os Naked Giants.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
DE: Em 2016, convidámos uma banda para abrir para nós num concerto, eles tocaram e nós não porque a polícia apareceu e não pode haver mais barulho. Este ano mijei-me pelas pernas abaixo antes de ir para o palco, fui à casa de banho limpar mas só havia papel higiénico usado…
MM: Nesse concerto em que a polícia apareceu, ainda subi ao palco e liguei a guitarra... Esse dia foi muito frustrante.
RP: Não acredito muito nisso. É o espírito do rock, cenas acontecem. Mas talvez ter acordado na cama no dia seguinte e não me lembrar de ter tocado, mas a malta disse que foi fixe.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
MM: Decididamente, Algiers.
DE: Sempre foi um sonho conhecer o Chris Cornell. Ainda estou a recuperar.
RP: Fazer música, talvez o Jack White.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
MM: Vou me repetir, mas, Algiers.
DE: Chris Cornell.
RP: Sonic Youth.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
MM: Gostava de tocar em países fora de circuito, Tailândia, Indonésia, Vietnam. A relação das pessoas nestes países com música rock é tão recente, que tudo deve ser bem diferente do que estamos habituados. Expressões, movimentos, reacções... É uma possibilidade muito remota, mas ainda assim, tem piada pensar nisso.
DE: Quero tocar em todos os palcos, chãos, tetos e céus possíveis.
RP: Por cá gostava de sentir a energia de Paredes de Coura. Lá fora não vou ser esquisito, sair de cá já seria bom sinal.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
MM: Queens Of The Stone Age no Sá da Bandeira, em 2002.
DE: Patti Smith no Coliseu de Lisboa.
RP: Linda Martini no Coliseu de Lisboa.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
MM: Faltava-me Depeche Mode no currículo mas ficou resolvido este ano. Estão na lista os Preoccupations, Thee Oh Sees, The Drones, e The Breeders que acabaram de voltar ao activo.
DE: Continuo com Soundgarden…
RP: Sonic Youth.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
MM: Qualquer concerto em 1977, com Sex Pistols, The Clash, Buzzcoks, The Damned...
DE: Soundgarden.
RP: Led Zeppelin no Royal Albert Hall em 1970.

Têm algum guilty pleasure musical?
MM: Música dita pimba dos 80's e pop também dos anos 80. Têm coisas geniais.
DE: Não acredito nisso.
RP: Oiço a Rádio Comercial de manhã, para me adaptar à sociedade.

Projectos para o futuro?
MM: Tocar, tocar, tocar. Trabalhar num longa duração. Temos muito material para refinar.
DE: Tour, Albúm, Tour.
RP: Queimar pneu na estrada de tanto tocar, por favor...

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
MM: É mesmo a primeira entrevista que damos... Por quem é que gostariam de ser plagiados? Resposta: Aquele tipo, o Tony... (risos)
DE: Qualquer pergunta que quisessem fazer mas tivessem medo.
RP: "És Rui Paz, mas és da paz ou do amor?" Sou do amor com paz! paz! paz! (risos)

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
MM: "Big Take Over" dos Bad Brains ou a "Smallpox Champion" dos Fugazi.
DE: Há uma longa lista para esta pergunta. Hoje será a "Strawberry Fields Forever" dos The Beatles.
RP: "My Generation" dos The Who.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
MM: Não faço ideia. Ainda estará para ser escrita, talvez.
DE: The Kills, "The Last Goodbye". Mas espero não ter um funeral.
RP: Radiohead, "No Surprises"

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do mais recente single "Sex Miles", que se encontra disponível para escuta través da plataforma Bandcamp.

Sem comentários:

Enviar um comentário