domingo, 1 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com Ela Vaz


Entrevista com a cantora Ela Vaz, cuja música percorre os trilhos da música tradicional portuguesa e do fado. Após anos colaborando em outros projectos (Helder Moutinho, Fernando Alvim, etc), chegou a vez de seguir o seu próprio caminho. Recentemente editou o seu disco de estreia "Eu", no entanto a sua música não se fecha em si própria, mas abre-se ao mundo, não é portanto de estranhar a presença de diversas colaborações, tais como Rão Kyao e Amélia Muge. Celebramos o dia mundial da música com mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Ela Vaz: A minha principal influência e que foi responsável por eu descobrir a minha paixão pela música foi o meu irmão Rui Vaz. A paixão dele levou-o a formar-se em produção musical, no Canadá, tendo regressado a Portugal e produzido o álbum revolucionário "Amai” do Paulo Bragança. Acompanhar o seu trabalho e paixão fez-me descobrir o poder que a música exerce sobre mim. A sua morte prematura em 1997 tornou a minha relação com a música mais séria e importante.

Ela Vaz, é mesmo o teu nome ou um pseudónimo?
O meu nome é Micaela Vaz. Durante 10 anos foi com o meu nome próprio que me apresentei em todos os trabalhos e parcerias de que fiz parte. Com a minha necessidade de avançar para um trabalho a solo surgiu também a vontade de adoptar um nome que assuma essa mudança, mas que também não esteja muito longe do que é a minha identidade. Foi assim que surgiu a Ela Vaz.

Após anos de experiência pincelada por diversas parcerias, quando é que despertou a vontade de te aventurares a solo?
Essa vontade surgiu da necessidade de avançar por um caminho traçado por mim. Os anos em que participei em diversos projetos, foram muito importantes para eu amadurecer como pessoa e artista. Foi um processo lento e natural. Chegou um dia em que percebi que tinha chegado a altura de dar este passo.

Editaste recentemente o teu disco de estreia “EU”, para quem ainda não o ouviu o que pode esperar?
Este é um disco que parte das minhas influências, da tradição musical portuguesa, do fado. Com este ponto de partida e num trabalho muito cúmplice com o produtor musical, o Quiné Teles , fomos construindo um disco a que, não por acaso, se chama “eu”. Aceitaram o meu convite para escrever e compor temas originais vários autores que muito aprecio como a Amélia Muge, Nuno Camarneiro, Filipe Raposo, Viriato Teles, Miguel Calhaz, o Ricardo Fino e a Uxía. Inclui também canções de José Afonso, José Mário Branco, João Afonso e Pablo Neruda/Víctor Jara. Sou uma cantora de emoções e penso que é isso que se pode esperar deste disco.

A decisão de contares com diversas colaborações surgiu naturalmente ou gostas que a tua música inclua diferentes sonoridades?
É uma mistura das duas coisas. O convite para o Rui Oliveira cantar comigo na música “Ó sino da minha aldeia” foi quase imediato. É o único fado do disco e foi nos concertos do Rui que comecei a minha carreira, a cantar fado. Pela admiração que tenho por ele como artista e por tudo que nos une era um convidado incontornável. Quer o “Baile em segredo” com a Uxía, quer a “Travessia do deserto” com o Rão Kyao são músicas que nos transportam para paisagens sonoras diversas. A energia de cada uma delas nos (a mim e ao Quiné) fez sentir que a Uxía e o Rão Kyao as completariam de forma ímpar, e acho que foi isso que aconteceu. São dois artistas que admiro muito.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Esta é uma pergunta que tenho muita dificuldade em responder. Penso que estará algures entre a música tradicional portuguesa e o fado.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Tenho outras actividades que me dão muito prazer e que faço sempre que posso, como a agricultura, tricot e crochet. Sou daquelas pessoas que aproveitam qualquer minutinho para fazer cochet, até nos aeroportos (quando a segurança não me tira a agulha) (risos).

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Para mim a vantagem é clara, fazer o que gosto. É poder canalizar as minhas energias, o meu tempo a algo que me dá prazer. Um prazer que muitas vezes é feito de sofrimento, porque a música tem muito de emoção, de dor, mas é uma dor que é necessária. Pelo menos para mim. A desvantagem está associada a todas as profissões precárias, que é a instabilidade, mas fazer o que gosto compensa qualquer desvantagem.

Quais as tuas maiores influências musicais?
A Amália Rodrigues, José Afonso, Mercedes Sosa.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Prefiro CD embora não ouça muita música. Costumo explorar discos ou cantores e depois andar com uma música na cabeça durante dias, sem nunca mais ligar a aparelhagem.

Qual o disco da tua vida?
Desde a minha adolescência que ouvia os mais diversos estilos de música. É difícil identificar um disco que seja o da minha vida, mas penso que pela altura em que o conheci e por se manter um dos meus preferidos é o “Dummy” dos Portishead.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Tenho um estado de maravilha permanente pelo “Por este rio acima” do Fausto.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ando a ouvir a “Mão Verde” da Capicua. Ter uma filha de 3 anos leva-me a descobrir coisas muito engraçadas.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Esquecer-me da letra.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Com a Sara Tavares, Concha Buika.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para o Caetano Veloso.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Não tenho o sonho de actuar em grandes salas. O que eu gostaria era de poder actuar nas inúmeras belíssimas salas e centros culturais que Portugal felizmente tem.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Gostei muito do Bobby McFerrin na Casa da Música.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Tori Amos. Foi o meu irmão que me ensinou a gostar dela e por isso é tão especial. Mais tarde ou mais cedo terá de acontecer.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
José Afonso no Coliseu em 1983.

Tens algum guilty pleasure musical?
Tenho muitos (risos)

Projectos para o futuro?
Apresentar este disco ao vivo, que é o que gosto mais de fazer.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Acho que foram todas feitas..

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
A “Estrela da tarde” do Ary dos Santos e Fernando Tordo.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Nessa altura já não tenho preferências (risos)

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Ficamos agora ao som do mais recente single "Amar É Ser Quem Sou".

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