terça-feira, 10 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com Devonts


Entrevista com os Devonts, duo brasileiro de folk, rock. Os Devonts são: Pedro Rui Von (voz, guitarra, harmónica) e Denis Muhamad (bateria, percussão, voz). Editaram recentemente o disco estreia Alguns Anos Daqui, que se sucede aos EP's Renovação (2014) e Veias Abertas (2016). Nesta edição das "Conversas d'Ouvido", falamos de influências musicais e discos de uma vida mas também de embaraços e de projectos para o futuro, no entanto há muito mais para descobrir nas linhas que seguem...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Denis (D): Segundo meus pais, desde miúdo eu já gostava de perseguir as fanfarras que passavam por perto. Mas foi aos 7 anos que tive a oportunidade de participar de uma, numa escola que estudei. De lá pra cá nunca deixei de me aventurar pela música.
Pedro (P): Quando criança, tive algumas longas viagens de carro em família e sempre ouvimos alguma fita cassete. Era sempre um entusiasmo esperar pela próxima música ou escolher a próxima fita que seria reproduzida. Passava a viagem no banco de trás cantando a maioria delas. Naquela época, já sentia de alguma forma que a música e o canto me agradavam de um jeito peculiar.

Como surgiu o nome Devonts?
Surgiu apenas como um trocadilho bobo com o artigo “the”, do inglês, presente na maioria dos nomes das bandas que ouvíamos, e também de uma expressão comum no Brasil que usávamos muito na época, que é uma abreviação de “à vontade”.

A vossa música demonstra-se atenta ao meio envolvente e surge acompanhada por uma mensagem. Quais as vossas maiores preocupações com o mundo actual?
Toda a condição de injustiça e violência é sempre uma preocupação pra nós, e acabamos expressando isso nas letras, às vezes. O Brasil é um país muito desigual económica e socialmente, o que faz dele também um país violento. E recentemente tivemos a tomada do poder da presidência por um (des)governo ilegítimo e que atua para que essa situação permaneça. Outra preocupação nossa com o mundo atual é o crescimento de uma onda conservadora e opressora, não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo. Mas apesar disso, atuamos com a concepção de que a humanidade caminha para o progresso, mesmo com os picos de retrocesso que nos saltam aos olhos de vez em quando.
Devonts - "Alguns Anos Daqui"
Editaram recentemente o disco “Alguns Anos Daqui”, para quem ainda não ouviu o que pode esperar?
Um trabalho muito sincero. Não ficamos apegados em seguir um determinado estilo musical ou qualquer outro rótulo. Fomos criando as canções de forma natural, de acordo com o que sempre tocamos e ouvimos na nossa vida. Em especial, este trabalho tem um carinho mais acentuado da nossa parte por ser o nosso primeiro disco. Algo que já sonhávamos há um tempo e que, felizmente, surgiu num momento em que já estávamos mais maduros com Devonts.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Quem nos vê tocando, geralmente, nos reconhece como uma dupla de folk, mas procuramos não nos rotular tanto com esse termo, que inclusive tem sido muito utilizado aqui no Brasil, talvez por estar aparentemente na moda. Surgem muitos artistas com um violão e sob o rótulo de folk, mas a essência não se resume ao instrumento. No nosso caso, especificamente, esse nosso formato com determinados instrumentos (violões, gaita, percussão e vozes) surgiu de uma necessidade em conseguir executar as músicas apenas em dois e não para nos encaixarmos em uma tendência. Mas nossa música tem, sim, grande influência da música folk, desde as melodias até alguns temas das letras, mas também tem do rock psicodélico dos anos 1960 e 1970, e da música brasileira. No fim, fazemos a música na qual acreditamos. Não vemos a necessidade de usar o termo folk por conveniência, mas porque nossas influências não deixam dúvidas. Bem como as influências brasileiras. Gostamos muito de explorar os ritmos regionais daqui. A prova disso são as percussões do nosso último disco, que deixam isso bem claro.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
D: A culinária e o mar.
P: Ler.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Como diz minha avó: “A música é a alegria da vida” e não tem nada mais gratificante do que poder trabalhar com algo desse tipo. Talvez a desvantagem seja a instabilidade em viver disso, pelo menos aqui no Brasil. Uma dificuldade não só da música, mas de qualquer outra arte.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Nós nos conhecemos numa fase em que ambos estavam descobrindo os álbuns dos Beatles. Então esta acaba sendo uma das principais influências pessoais. Aquela coisa de querer saber tocar todas as músicas de todos os álbuns (risos). De lá pra cá sempre viemos compartilhando entre nós artistas como The Who, Simon & Garfunkel, Bob Dylan, Mumford & Sons, Fleet Foxes, Secos & Molhados, Sá, Rodrix & Guarabyra, etc.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Pela facilidade, ouvimos muito por streaming. Mas no fundo, o coração bate mais forte com o chiadinho do disco de vinil.

Qual o disco da vossa vida?
D: Talvez esta seja a pergunta mais difícil! O “Abbey Road” dos Beatles, é uma das maiores obras de arte que já tive o prazer de ouvir na vida. Algo muito maduro, com começo, meio e fim. Mas é difícil eleger apenas um (risos).
P: Por uma questão de justiça talvez eu eleja o “Revolver” dos Beatles. Acho que não é o meu preferido, mas foi um disco que ouvi incessantemente e foi a minha grande descoberta e ponte para outros grandes álbuns e artistas.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
A Date With The Everly Brothers”. Uma pérola dos anos 1960 e que, coincidentemente, ouvimos ontem. (risos)

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
The Everly Brothers.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Uma vez tocamos em um evento em que levamos um equipamento de som cujo porte serviria, segundo o contratante. Chegando lá, havia um equipamento de som gigantesco e ensurdecedor que estava reproduzindo as músicas do DJ. Na hora do nosso show, com equipamento menor, não se ouvia nada do que tocávamos e tivemos que pausar logo no início para resolver o problema e fazer com que nosso som fosse ouvido, pois o público estava ansioso pelo show. Esse breve intervalo durou uma eternidade para nós, com um silêncio no ambiente e todos olhando pra nós enquanto aguardavam.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Simon & Garfunkel

Para quem gostariam de abrir um concerto?
Mumford & Sons

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
Royal Albert Hall, em Londres.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
Acho que foi um show do Paul McCartney aqui no Brasil em 2010. Não é à toa... Trata-se de um ex-beatle e com praticamente 60 anos de experiência de palco.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
The Who

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
O Festival de Woodstock de 1969.

Têm algum guilty pleasure musical?
P: Ouvi muita música pop na adolescência com a minha irmã. Posso dizer que conheço razoavelmente bem a discografia das principais cantoras (Britney Spears, Katy Perry, Spice Girls, etc). (risos)

Projectos para o futuro?
Ampliar os horizontes e o alcance da nossa música. Tocar em lugares que nunca tocamos antes, como Portugal.

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
"Baba O'Riley" (The Who)

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
D: "Scarborough Fair" (versão do Simon & Garfunkel)

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
A última pergunta, sobre que música gostaríamos que tocassem nos respectivos funerais, foi algo que jamais pensamos na vida. Pensar sobre ela foi interessante.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Nós que agradecemos pelo interesse e atenção com nosso trabalho, além da vossa cordialidade e dos belos cumprimentos.

Terminamos com a música dos Devonts e do mais recente single "Impressão Sua"...

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