sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Conversas d'Ouvido com Iguana Garcia

Entrevista com Iguana Garcia, alter-ego do músico João Garcia. Segundo o próprio, a sua música é uma mescla de pop dançável, com experimentalismo psicadélico e espacial (nós não descreveríamos melhor). O disco de estreia Cabaret Aleatório, foi gravado, masterizado e misturado no estúdio HAUS e tem lançamento previsto para o próximo dia 29 de Setembro. Enquanto esse dia não chega fomos conhecer melhor Iguana Garcia, em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Iguana Garcia: Sempre gostei de música, mas na adolescência comecei a desenvolver o gosto pelo rock alternativo com bandas como Franz Ferdinand ou os Arctic Monkeys e isso fez com que quisesse começar a tocar e a compor. À medida que fui crescendo as referências foram mudando, mas o gosto por criar a minha música continuou.

Como surgiu o nome Iguana Garcia?
O nome inicial do projecto era VIPER, mas não era um nome com o qual eu sentisse uma atração especial. A mudança de nome começou apenas em estúdio quando o Makoto Yagyu me sugeriu que arranjasse um nome de artista mais próprio. Iguana pareceu-me uma palavra que transmitia o lado exótico da minha sonoridade, mas queria usá-la mais como nome próprio do que como uma referência ao lagarto em si. Por isso pareceu-me lógico que usasse o meu próprio apelido, Garcia, e imediatamente me apaixonei pelo nome Iguana Garcia.

O teu disco de estreia está a chegar, já podes antecipar alguma coisa sobre o que podemos esperar?
O álbum é o resultado de um ano de experimentação, um processo novo para mim de construção musical completamente composto e assimilado por mim. Podem esperar uma sonoridade pop dançável, músicas longas banhadas de um experimentalismo psicadélico e espacial, e melodias fáceis de cantar e interiorizar.

Cabaret Aleatório foi gravado nos estúdios HAUS, como foi a experiência?
O HAUS foi o estúdio certo para gravar o meu álbum de estreia, em apenas uma semana conseguimos gravar, misturar e masterizar todo o álbum devido à visão e capacidade de trabalho do Fábio Jevelim e do Makoto Yagyu. Não valeu só pelo material que se tem à disposição quando se vai lá gravar, valeu principalmente pelo lado humano e profissional das pessoas que criaram o HAUS, e foi sem dúvida a semana que mais me marcou nestes primeiros meses como Iguana Garcia.
Iguana Garcia - "Cabaret Aleatório"
Compuseste as músicas, realizaste o vídeo do single “60KF”, a capa é da tua autoria, gostas de ter o controlo de tudo, ou foi apenas a “necessidade que aguçou o engenho”?
É sem dúvida muito mais um caso de “necessidade que aguçou o engenho”. A nível de composição musical e artwork, esse é um trabalho que me apaixona e que quero sempre ter controlo sobre. Mas a nível de tudo o resto, principalmente a nível de videoclip, foi mais pela necessidade de produzir ao máximo com um custo mínimo.

Quais as principais dificuldades que sentiste em todo este percurso?
A principal dificuldade foi começar o conceito do projecto, saber o material certo para comprar, definir uma sonoridade simples o suficiente para fazer música sozinho ao vivo, mas complexa quanto baste para não ser tornar repetitivo como muitos one man bands. Ultrapassada essa dificuldade tudo vem sendo cada vez mais fácil.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Gosto de descrever Iguana Garcia como um projecto de fusão musical entre a música pop de dança 80’s e o rock psicadélico contemporâneo.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
A música é sem sombra de dúvida a minha grande paixão, mas gosto muito de trabalhar em Photoshop para produzir cartazes e artworks. Fui sempre tratando do grafismo do projecto, e já concebi artworks para outros artistas, como o álbum ‘Reverberação’ de LOBO.


Lobo - "Reverberação"
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem de vida de música anda sempre de mão dada com a sua maior desvantagem também. A pessoa ter a oportunidade de viajar para apresentar as melodias e harmonias que mais gosta de fazer a pessoas novas é apaixonante, mas com isso há sempre uma instabilidade associada, infelizmente vivemos num país sem apoio à cultura e um músico tem que ser um excelente vendedor para combater essa instabilidade.

Quais as tuas maiores influências musicais?
As referências são cíclicas, e nem só da música me inspiro. Mas é obvio que a música negra Disco e Soul dos anos 70/80 tomam um papel muito importante na maneira como defini a sonoridade de Iguana Garcia, a electrónica retro dessa mesma altura também, e o rock psicadélico contemporâneo traduz mais fielmente aquilo que cresci a ouvir.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Por preferência gosto de ouvir música em vinil, mas por uma questão de conveniência acabo a ter que ouvir a maior parte da música em mp3.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Na minha opinião, nem uma nem a outra. O streaming vem simplesmente preencher o espaço que a maior parte dos ouvintes dá à musica que ouve. Todos nós gostamos de partilhar música com os nossos amigos, ou sair de casa com a possibilidade de ouvir aquelas malhas pelas quais estamos apaixonados, e o streaming só existe porque é isso que queremos enquanto ouvintes.

Qual o disco da tua vida?
Ui, essa não é uma pergunta que possa responder de uma maneira afirmativa, mas, de todos os álbuns, o mítico The Dark Side of the Moon não pode deixar de ser mencionado pela riqueza harmónica e melódica que aprendi com esse registo dos Pink Floyd.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Não tenho ouvido muita música nova, mas fiquei realmente surpreendido com a maturidade do novo álbum do Mac DeMarco This Old Dog. Gosto que o menino traquina que é um romântico por excelência esteja a amadurecer.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Recentemente mostraram-me o álbum de Chancha Via Circuito Río Arriba e o Eternally Even do Jim James, e esses são dois álbuns que tenho ouvido bastante. Também estou a ouvir bastante o Villains dos Queens of the Stone Age, que para além de serem uma das minhas bandas preferidas, trabalharam com o Mark Ronson, um dos produtores pop mais criativos da actualidade.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Felizmente não há nenhuma situação que se destaque, a minha carreira é curta e possivelmente as mais embaraçosas ainda estão para acontecer (espero que não), mas talvez refira uma vez a tocar na Casa Independente em que o meu pedal de processamento de voz cortou o volume ao microfone e durante uma música cantei sem amplificação. Obviamente que tudo o que cantei nesse momento foi inaudível.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Os putos Quelle Dead Gazelle. Desde que apareceram sempre foram uma das minhas bandas preferidas no panorama nacional e adorava gravar um álbum com eles.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Felix Kubin ou Todd Terje.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Boom Festival.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Pergunta difícil. Talvez Arcade Fire no Super Bock Super Rock 2011. Foi o primeiro festival em que acampei com os meus amigos, o que é sempre mágico, mas associado a isso os AF apresentaram o The Suburbs, álbum que me transporta imediatamente para a minha infância na Azóia no Cabo da Roca onde vivi a típica vida de criança de aldeia suburbana, onde cada dia era uma nova aventura com os outros miúdos.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
BADBADNOTGOOD

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Pink Floyd Live at Pompeii

Tens algum guilty pleasure musical?
Adoro linhas melódicas catchy que rocem o foleiro.

Projectos para o futuro?
Investir ao máximo em Iguana Garcia, lançar o álbum, mostrá-lo pelo país, dar a conhecer a minha sonoridade ao máximo de pessoas possível para construir a hipótese de ir além-fronteiras.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Em quanto tempo achas que se mede uma carreira de artista?
Acho que o sucesso de um artista é medido na casa das dezenas de anos, e quanto mais tempo a pessoa demora a contruir o seu sucesso, mais tempo é provável manter esse sucesso.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Sofrendo Por Você" dos Sensible Soccers.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Sinceramente, a única música que gostava seria o barulho de fundo da conversa de todas as pessoas que amo a lembrarem-me pelas histórias que tive e a pessoa que fui.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do segundo single "60KF", extraído do futuro disco de estreia Cabaret Aleatório.

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