sábado, 30 de setembro de 2017

Conversas d'Ouvido com Filipe Cabeçadas


Entrevista com o cantor e compositor algarvio Filipe Cabeçadas. O seu percurso musical teve início em 1997, e durante anos e anos integrou diversas bandas de rock independente, tais como Mindlock, Melomeno-Rítmica, oLUDO e NOME. Após um hiato, Filipe Cabeçadas está de regresso, mas desta vez em nome próprio, embarcando sozinho nesta aventura. Com o passar dos tempos muita coisa mudou, mas o seu estilo independente manteve-se intacto, e é segundo essa premissa que surge o seu primeiro single "Bring Back the Man". Altura ideal para ficarem a conhecer melhor o músico, em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Filipe Cabeçadas: É uma paixão que começa como uma amiga confindente e companheira desde muito cedo. Ela estava sempre presente quando era necessário. Depois encontrei nela um escape para dizer coisas que não conseguia dizer de outra forma. Em suma, surgiu como um amor à primeira vista na infância e nunca mais me abandonou.

Mindlock, Melomeno-Rítmica, oLUDO e NOME, porquê a decisão de tentar uma carreira a solo?
Nunca é uma decisão fácil, pegar num barco sozinho e içar a vela sem camaradas. Mas, desta vez, foi o que senti que tinha que fazer. Tive algumas bandas que em geral tiveram um período de vida curto. Não queria que isso voltasse a acontecer e sabendo que dependo só de mim, sei que assim a probabilidade de fazer um percurso mais longo e coeso é maior.

Nestes longos anos de experiência, qual a melhor lição que aprendeste?   
Tudo é efémero. Apenas tu fazes a ligação entre vários pontos. Alimenta essas ligações e constrói um bonito mapa de relações entre os vários pontos.

Para quem ainda não ouviu o teu single de estreia “Bring Back the Man”, o que pode esperar?
Falar da própria música que se faz é complexo. Para mim, é a melhor música que alguma vez compus. Quem se sentir só, tem ali uma boa mensagem. Se houver algo mal resolvido, também. Quem gosta de música com toque independente, com alguma garra e profundidade de emoções, é capaz de passar um bom bocado. Não sei relativizar pois estou no olho do furacão. Digam-me vocês depois de a ouvirem.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Estilo independente, sem fórmulas fechadas. Gosto de rock, de ambientes, de espacialização e acima de tudo gosto de abordar temas clichés com um toque especial.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Viajar. O que é bom pois a música permite-me fazer isso imenso (e sem pagar)!

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
As vantagens são sempre mais que as desvantagens. Ter a possibilidade de estabelecer amizades e empatias facilmente pelas ligações emocionais que se estabelecem com os públicos. A vida de músico dá prazer pela natureza da própria atividade. Sinceramente, só encontro vantagens mas se aprofundar um pouco mais o pensamento, direi que a instabilidade de trabalho e a insegurança é algo permanente na vida musical e portanto um bom músico é também um bom gestor de si mesmo.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Quanto tempo temos? (risos) Influências são sempre um work in progress. Tenho influências hoje que não tinha há 10 anos, etc. Sendo o mais científico possível, a minha primeira paixão foi o metal (de todos os subgéneros). Simultaneamente ouvia alguma música clássica e bandas sonoras de filmes. Nunca me identifiquei com o Pop. Redescobri o punk, o espírito indie. Recentemente, rendi-me à evidência que a música boa está em todos os géneros e portanto vou buscar influências desde o afro-beat ao death metal angolano. Séc. XXI, certo?

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Sou da geração do início do cd e, portanto, cultivei muito esse hábito. Dado que já não há espaço em casa para mais cd's, estou neste momento em processo de transição para o digital. Como viajo bastante, rendi-me ao spotify e comprei um ipod.  É parecido mas… falamos daqui a uns tempos.

Qual o disco da tua vida?
Pergunta injusta mas venero o “The Pariah, The Parrot, The Delusion” de uma banda de São Francisco chamada Dredg. Talvez o disco perfeito para uma fase da minha vida. Nunca houve tão bom timimg.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
O último disco dos Imagine Dragons, “Evolve”.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Por incrível que pareça, são de Leiria e chamam-se First Breath After Coma. Já conhecia de nome mas vi ao vivo no Festival F, na minha cidade natal. Adorei e arrisco-me a dizer que foi o melhor concerto que vi este ano, até agora. Acabei por conviver um pouco com o vocalista depois e ficámos em contacto.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Sempre que me cantam os parabéns em palco. É mega embaraçoso.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Neste momento, só me vem à cabeça First Breath After Coma.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Obviamente, os Stones! A curto prazo, contento-me com o Father John Misty.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Tenho o sonho de atuar no Rock Am Ring nem que seja no campismo. (risos)

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Muito difícil. Vem-me à cabeça os K's Choice no Sudoeste, em 2001.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Admito que sou mais de dar concertos do que os ir ver. Talvez os Biffy Clyro, Coldplay, Alter Bridge. Vou tentar o Father John Misty em Novembro!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Houve um festival em 95 na Holanda. Eu era puto mas vi a cobertura pela Mtv Europe. Era o Dynamo 95 e tinha todas as bandas que venerava, juntas num só festival. Ainda vejo esse vhs de tempos a tempos para me lembrar como era.

Tens algum guilty pleasure musical?
Muitos. Gosto de uma música dos Santa Maria. Fiquemos por aí (risos)

Projectos para o futuro?
Tenho um plano bem estruturado até ao final de 2018. Lançar singles, todos um pouco diferentes e que abordem uma temática especial para mim. Final de 2018, uma surpresa talvez.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Esta mesma! A resposta é “esta mesma”, obviamente.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Assim de repente, uma canção do último disco do David Fonseca. “Só Uma Canção No Mundo” é daquelas que impõe respeito.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
“Perfect Day” do Lou Reed.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Terminamos precisamente ao som do single de estreia "Bring Back The Man".

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