sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Conversas d'Ouvido com Astronaut in Cyberspace


Entrevista com os Astronaut in Cyberspace, pela voz do vocalista, guitarrista, teclista e compositor Diene Faye. A banda sueca de rock alternativo é ainda composta por Adam Öhrsvik (guitarra), Demba Lo (baixo) e Carl Resare (bateria). Estrearam-se em 2015 com um Ep homónimo, no ano seguinte editaram o Lp Aurora.exe, este ano o segundo disco verá a luz do dia. Nesta edição das "Conversas d'Ouvido", falamos sobre o novo álbum, mas também sobre como tudo começou e houve ainda tempo para antecipar a digressão portuguesa que se encontra num horizonte próximo...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Diene Faye: A paixão pela música começou com um pequeno sintetizador de brincar, tinha eu seis anos. Dediquei a minha vida à música desde desse momento. É algo especial a forma como as ondas sonoras podem afectar as nossas emoções.

Como surgiu o nome Astronaut in Cyberspace?
Escrevi uma canção ridícula sobre um homem que ficou preso num videojogo interestelar e para sair do jogo ele tinha que salvar o mundo de extraterrestres. Este tema foi inspirado num livro de fantasia chamado “Only You Can Save Mankind”, escrito por Terry Pratchett.
Chamei a canção de “Astronaut In Cyberspace” porque foi o que me veio à cabeça naquele momento. Depois o meu bom amigo, e compositor, Adam disse que aquele seria um bom nome para uma banda. Então nós formámos uma banda (risos).

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
A nossa música pode ser descrita como “alienation rock”. Às vezes tu consegues sentir-te um alien neste planeta. O aquecimento global, a pobreza, as injustiças e tantos outros temas fazem com que por vezes a nossa existência se torne pesada.
Nós inspiramo-nos nisso e a nossa mensagem é, acima de tudo sobre o lado negro de viver a vida. Mais psicologicamente do que politicamente. O som é rock mas é influenciável por tudo o que ouvimos.

Segundo sabemos encontram-se a preparar o sucessor de “Aurora.exe”, já podem levantar o véu sobre o que podemos esperar?
“Aurore.exe” foi uma experiência em que estivemos em estúdio durante nove dias seguidos juntando as canções que tínhamos na altura. Olhando para trás percebo que deveríamos ter dedicado mais do nosso tempo em todo o processo, e deveríamos ter uma mensagem muito mais clara ainda antes de entrar no estúdio.
Agora sabemos o que queremos fazer, e como o fazer, por isso podem esperar três coisas: primeiro mais qualidade de mistura. Segundo, uma mensagem mais clara e um álbum que tem a mesma mensagem do início ao fim. E em terceiro lugar mais distorção, raiva, desespero e outros sentimentos semelhantes. Neste último ano tenho passado por tempos difíceis e isso torna-se claro na mensagem das nossas novas canções.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Gosto muito de história e do universo. Li bastante sobre ambos os temas e tento descobrir estrelas no céu, por exemplo. Sou um pouco antiquado e não gosto muito de novas tecnologias. Prefiro fazer tudo fisicamente em vez de digitalmente (risos).

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Estar em palco é fantástico e gravar em estúdio é igualmente incrível! A vantagem é fazer tudo isto porque é o que mais gosto na vida. A desvantagem é o dinheiro, porque se tu queres fazer dinheiro fácil então este é o negócio errado.

Quais as vossas maiores influências musicais?
The Beatles, Bob Dylan, Smashing Pumpkins, Radiohead e Esham.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Cd. Tenho uma grande colecção e gosto de visitar lojas e encontrar autênticas obras-primas.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
O streaming é a evolução. Muitas pessoas gostam, algumas não. Alguns artistitas perdem dinheiro, outros ganham. A vida é assim e se não te adaptas a evolução apanha-te mais cedo ou mais tarde.
A internet levou ao declínio do negócio de venda de cd’s, mas aproximou os artistas dos seus fãs. Os artistas independentes conseguem hoje vender merchandising diretamente aos seus fãs sem que algum intermediário retire dinheiro disso. A internet tornou possível a independência dos artistas na gestão e agenciamento das suas próprias tours, nas cidades em que residem os seus fãs. Penso que o streaming seja algo bom, é apenas diferente do que existia antes.

Qual o disco da tua vida?
“Bob Dylan Live 1966”

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Ainda costumo ouvir “Lost In the Dream”, dos The War On Drugs, desde de 2014. É simplesmente fantástico!

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Nunca estive na linha da frente em busca de projetos novos e inovadores, nunca tive pressa. Agora tenho ouvido alguns clássicos e encontrei Siouxsie & The Banshees. Algumas músicas são muito interessantes e inovadoras para a sua época.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Tocámos uma vez no Hotel Bistro durante um jantar em que o tema era a comida mexicana. Acho que eles pensaram que nós íamos tocar músicas latinas para enquadrar o tema da noite (risos).
Sentimo-nos extremamente deslocados a tocar rock, mas para compensar tocámos o “El Condor Pasa” duas vezes para os convidados do jantar (risos).

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Seria cool fazer uma música com uma voz feminina…como a Björk.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Vi os Radiohead em Estocolmo, no mês de Junho, e foi inesquecível. Abrir o concerto daquela noite teria sido fantástico!

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Glastonbury e Lollapalooza, são dois festivais brutais!

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Claramente foi quando o Esham tocou em Helsínquia, em 2015. Esham é um rapper underground de horrorcore, de Detroit, e até aí penso que não tinha tocado na Europa, e se o fez foi muito poucas vezes.
Ele é antigo e tem fãs igualmente antigos, por isso ele ir a Helsínquia foi muito estranho. Acredito que alguém em Helsínquia era um grande fã de música hardcore e agenciou-o, apenas isso. Foi surreal, nunca pensei vê-lo ao vivo! Foi uma noite memorável e um ponto alto da minha vida!

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Sei que os The Cure são muito bons ao vivo. Gostava muito de um dia ter essa experiência!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Dado que “Bod Dylan Live”, em 1966, é o meu álbum favorito de todos os tempos gostaria muito de experienciar essa digressão.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Gosto verdadeiramente de tudo um pouco por isso nunca me sinto culpado (risos). Ok, talvez algum disco pop dos anos 80 onde vocalistas femininas cantam sobre casos de uma noite ou raparigas que só se querem divertir…(risos).

Projectos para o futuro?
Uma digressão, um novo álbum e depois vamos ver!
Gostaria de experimentar um pouco mais com a nossa música, torná-la mais genuína usando canções antigas e estranhas. Quero também continuar a investir no nosso projeto, fazendo-o crescer, aumentando a nossa base de fãs e dando mais concertos e digressões.

Em Outubro planeiam uma digressão europeia, com passagem por Portugal, conheces alguma coisa do nosso país? O que esperas desses concertos?
Já estive nos Açores e em Espanha. Sei que os portugueses podem ser alternativos, liberais e que têm mente aberta. Também sei que há grandes arquitectos em Portugal. Ah, e comparado com a Suécia o tempo é muito melhor (risos).
Espero passar uns bons dias, fazer novos amigos e talvez visitar alguns monumentos. Tento não criar grandes expectativas sobre os concertos, até porque não sabemos o que esperar. Ainda não temos uma grande base de fãs em Portugal, mas espero que comecemos a criar uma.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
A questão é: Se pudesse voltar atrás no tempo teria feito as coisas de maneira diferente?
A resposta: Fiz muitas coisas erradas, mas estar onde estive trouxe-me onde estou hoje, por isso não voltaria atrás no tempo, mas ficava muito tentado a fazê-lo.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Fico sempre espantado com os Radiohead, não sei como eles fazem. As músicas deles são realmente difíceis de criar, eles são mestres domadores das ondas sonoras. Por isso é que “Weird Fishes” é uma das músicas que mais gosto deles.  

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Don't Let Me Down” – The Beatles

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do mais recente single "Time Machine".

Sem comentários:

Enviar um comentário