segunda-feira, 1 de maio de 2017

Conversas d'Ouvido com Urbanites

Introduzimos mais um nome no nosso dicionário musical, os brasileiros Urbanites, banda de rock alternativo com influências da brit pop e do blues. Quarteto composto por: Guilherme Lazzari (voz, guitarra), Abraham Bergamo (baixo, voz), Henrique Souza (guitarra) e Leandro Castro (bateria). Este ano estrearam-se com a edição do EP Anxious Minds Vol. 1, momento ideal para os conhecermos melhor, nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Leandro (Lê): A música sempre me pareceu a forma de expressão humana mais atractiva. Não há nada mais puro e real do que ver um artista ou uma banda em um palco, ou ouvir seu disco favorito de forma obsessiva nos fones de ouvido. Tão grande quanto o prazer e vontade de ouvir, surgiu a necessidade de se envolver com isso criativamente, criando música e se juntando a outras pessoas que demonstram essa paixão. 
Henrique (Bróder): Surgindo… Não tive uma infância particularmente musical, nem houve algum evento especial que despertou meu interesse pela música. Certo dia só me dei conta (acho que sob o efeito de "Sunshine Of Your Love", do Cream): "puxa, eu realmente gosto desse negócio..."  
Guilherme (Guizo): Embora minha mãe já tenha me inserido na música quando criança, o real interesse surgiu um pouco mais tarde, quando comecei a ter contato com algumas bandas brasileiras dos anos 80. Mas a paixão pela música e a vontade de tocar em uma banda vieram mesmo com as bandas de rock alternativo dos anos 80 e 90, como Nirvana, Oasis, U2, REM, Smashing Pumpkins e Radiohead, entre outras.
Como surgiu o nome Urbanites?
Bróder: Estava dirigindo, indo para o trabalho. Pensava em algumas dificuldades pelas quais passava na época (não me lembro quais eram), até que, num esforço de autocrítica, cheguei à conclusão que meus problemas eram bobagem, pseudoproblemas típicos de um jovem do século XXI, habitante de uma grande cidade, de um "urbanita" moderno (na verdade, o primeiro termo que me veio à mente foi muito pior do que esse, mas deixa para lá…). Acabei gostando desse "conceito", traduzi para o inglês e mandei ao grupo de WhatsApp da banda: "Que tal The Urbanites?". O pessoal gostou da ideia. Deixamos fermentar um pouco e, algum tempo depois, adotamos o nome - sem o "The".
Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
: Gostamos de guitarras altas, letras profundas e com significados reais, que todos conseguem se identificar. O rock alternativo e indie dos 90's são certamente nossa maior influência. Carregamos também em nosso DNA, a inspiração no rock setentista, no Garage Rock e nos inspirados solos do Blues.
Editaram recentemente o EP “Anxious Minds Vol.1”, para quem ainda não o ouviu, o que podemos esperar?
Bróder: Desde já vocês podem curtir nossos riffs cativantes, letras psicológicas (mas acessíveis!) e som contagioso!
Guizo: Acredito que o tema das músicas é atual o bastante para cativar os ouvintes e fazê-los refletir sobre alguns sinais do nosso tempo: a ansiedade crónica que muitos de nós sentimos perante o excesso de informação recebido diariamente; o excesso de escolhas possíveis que nos deixa sufocados e paralisados; a constante luta com nossos conflitos internos.
Segundo sabemos, o EP foi produzido de forma totalmente independente, quais as dificuldades com que se depararam?
Bróder: Pagar as contas…
Guizo: O Henrique (Bróder) disse tudo!
Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
: Artes visuais, cinema, culinária e cervejas de todo o mundo.
Bróder: É… guitarras?
Guizo: Cinema, séries e bons livros, que muitas vezes dividem o espaço com as atividades como compor e tocar.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
: A maior vantagem é estar envolvido com algo que se ama, fazendo aquilo com toda a verdade que conseguimos expressar. A desvantagem é não conseguir tão facilmente fazer disso algo financeiramente viável, tendo que restringir a atividade a algo paralelo.
Bróder: Guitarras e pagar as contas...
Quais as vossas maiores influências musicais?
: Nirvana, Pixies, Radiohead, Dinosaur Jr., Led Zeppelin e Ramones.
Bróder: Como guitarrista, posso dizer que minhas maiores influências foram os grandes: Clapton, Hendrix, Stevie Ray Vaughan, B.B. King. Foi o trabalho deles que me levou a me apaixonar pela música e, ainda mais, pela guitarra elétrica. Principalmente o do Clapton. Para mim, é o melhor e mais influente dos guitarristas!
Guizo: Neil Young, Nirvana, Oasis, Stone Roses, Radiohead, U2, The Clash, Sex Pistols, Bob Dylan, entre outros.
Como preferem ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
: Principalmente o streaming, por conseguir ter acesso rápido a uma biblioteca imensa que vai desde bandas locais até os maiores artistas da história.
Bróder: Sou da era pós-vinil; acho muito interessante o romantismo e a nostalgia por trás da cultura (resistência) do vinil, mas ainda não me dei ao trabalho de mergulhar de cabeça nela. (Sem falar que ela exige bolsos fundos! Já bastam as guitarras para acabar com minha conta bancária!) Por isso, acostumei-me a ouvir música em CD's e até hoje gosto de fazê-lo. Claro que o streaming é muito mais prático, mas gosto de ter a mídia física, os encartes e tudo o mais. 
Guizo: Apesar de ter iniciado o hábito com CD's, hoje me rendi totalmente ao streaming.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
: Fez o jogo mudar drasticamente, pois ao mesmo tempo que matou a “velha indústria” por destinar muito pouco lucro aos músicos, criou uma nova cultura, pois nunca se ouviu tanta música na história.
Bróder: Nem um, nem outro. A música muda, assim como os formas de ouvi-la. O streaming é só mais um meio de se ter acesso a ela. Tem vantagens e desvantagens; temos de conviver com isso e saber aproveitar e explorar a nova tecnologia a nosso favor, como ouvintes e como músicos.  
Qual o disco da vossa vida?
: OK Computer - Radiohead.
Bróder: Pergunte-me daqui a uns 67 anos; responder isso tão cedo na vida, dá azar…
Guizo: Se fosse pra escolher apenas um, eu diria London Calling, The Clash. 
Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
: Near to the Wild Heart of Life - Japandroids
Bróder: AM - Arctic Monkeys.
Guizo: Behind The Music, da banda sueca Soundtrack Of Our Lives.
O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
: Mestres atuais do blues, principalmente os que o misturam ao funk, soul e rock. Ando ouvindo obsessivamente a playlist “Funky Heavy Bluesy” do Spotify.
Bróder: Estou numa fase do apreciar as belezas do streaming. Tenho escutado as rádios e playlists do Spotify (ou vou pulando de vídeo em vídeo no Youtube), tentando absorver o máximo possível. Isso é interessante, pois entro em contato com muita coisa a que jamais teria acesso de outro modo. Por outro lado, com o excesso de informação e de possibilidades veio a dificuldade de realmente me apaixonar por alguma banda ou músico diferentes. Talvez ainda esteja preso na cultura da sugestão, de comprar a mídia física e escutá-la até superar o estranhamento inicial com um som novo e mergulhar nele. Acho que é por isso que minha descoberta mais recente ainda veio de uma sugestão: Corsicana Lemonade, álbum do White Denim. Sei lá, conquistou-me no primeiro riff!    
Guizo: Algumas coisas de PJ Harvey, Warpaint, QOTSA, Arctic Monkeys, entre muitos outros. A cultura das playlists acaba nos desviando de escutar álbuns na íntegra.
Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
: Tocar uma vez com loops em playback e o cabo do metrônomo falhar.
Bróder: No meio do gig, olhei para baixo e dei-me conta de que havia esquecido de vestir minhas calças! Não, espera… acho que isso foi um sonho.   

Guizo: Falta de retorno da voz geralmente causa situações embaraçosas.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
: Queens of the Stone Age.
Bróder: Neil Young.
Guizo: Black Keys.
Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
: Lou Barlow (Dinosaur Jr., Sebadoh).
Guizo: Noel Gallagher.
Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
: Alguma edição do Coachella.
Guizo: Glastonbury for the win!
Qual o melhor concerto a que já assistiram?
: Radiohead em São Paulo, em 2009.
Bróder: Uma apresentação do Joe Satriani, há alguns anos. Não é para qualquer gosto e na verdade, não sou fã dos supervirtuosos da guitarra, mas a técnica, a emoção e a energia daquele sujeito são demais!
Guizo: Pearl Jam em Curitiba, em 2011.
Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
: Dinosaur Jr.
Bróder: Audioslave
Guizo: U2
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de ter estado presentes?
: Reading Festival em 1992
Guizo: U2 "Live at Red Rocks" (1983), que foi documentado no álbum Under a Blood Red Sky.
Qual o vosso guilty pleasure musical?
: Power metal e divas pop, dependendo do dia.
Bróder: Eu meio que gosto de ouvir Adele.
Guizo: Spice Girls – "2 Become 1"
Projectos para o futuro?
: Criar muito mais música e tocar fora do país.
Bróder: Trabalhar na divulgação das músicas do AM: v. 1 durante o ano; lançar segundo EP no final deste ano/começo do próximo; trabalhar num álbum de inéditas no ano que vem e de um modo geral, continuar fazendo boa música.  
Guizo: Persistir neste projeto. Acredito que temos um belo material lançado e muito mais que ainda está para lançar, então a ideia é continuar trabalhando na divulgação e buscar espaços legais para promover o nosso som.
Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
: Vocês acham que existe preconceito musical? Existe música boa e música ruim, e cabe a cada um sua conclusão pessoal sobre o que é bom ou ruim. Existe sim preconceito ao se negar ouvir algo só por que é rotulado como determinado gênero.
Bróder: Por que a guitarra elétrica? Porque ela é **** demais! 
Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
: "No Surprises" - Radiohead.
Bróder: "Free Bird" - Lynyrd Skynyrd (sim, por causa dos solos de guitarra; what a send off that would be!)
Guizo: "The Dying of The Light" - Noel Gallagher’s Flying Birds.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Nós que agradecemos! Esperamos poder tocar em Portugal em breve!
Terminamos ao som do mais recente EP dos Urbanites, Anxious Minds Vol. 1

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