segunda-feira, 8 de maio de 2017

Conversas d'Ouvido com O Gajo

Hoje falamos d' O Gajo, um gajo de seu nome João Morais, um gajo que escolheu a viola campaniça para expor a sua música, um gajo com quase três décadas de carreira, um gajo que pode soar a fado, pode soar a música tradicional, não sendo nada disso e no fundo é isso tudo.
João Morais, apresenta o seu projecto O Gajo e prepara-se para editar o álbum "Longe do Chão", enquanto aguardamos esse dia fomos conheçê-lo melhor em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
O Gajo: A paixão pela música surge na adolescência a ouvir e ver bandas que me influenciaram muito a nível pessoal e que despertaram um mim uma vertente artística que estava adormecida até então.

Foste tu que escolheste a Viola Campaniça, ou ela é que te escolheu a ti?
Fui eu que a escolhi. Pensei fazer este projecto com uma guitarra portuguesa mas num concerto que dei em Beja em 2015 conheci a Viola Campaniça e o seu som ficou-me entranhado. Voltei para Lisboa com a ideia fixa de ter de arranjar uma viola daquelas.

Como surgiu o nome O Gajo?
A lista de hipóteses já ia longa e estava sempre a lembrar-me do nome de projectos de outros “gajos”… O GAJO surge depois de repetir a palavra várias vezes ao acaso.
Gosto que seja uma palavra do nosso calão. Uma palavra da rua que contrarie os formalismos.

Preparas-te para editar o álbum “Longe do Chão”, já podes levantar um pouco o véu, sobre o que podemos esperar?
“Longe do Chão” é o encontro das minhas referências actuais com a vontade que tenho de me ligar à minha terra, Portugal. Oiço muita música americana e inglesa e isso está tudo presente mas com sabor a música portuguesa.
“Longe do chão” é um voo de onde ganhamos perspectiva para saborear novas paisagens sonoras. É um disco melódico, sem virtuosismos e onde tento não repetir fórmulas.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Encontro conforto no estilo das “Música do Mundo” pois sinto que há ingredientes de todos os Continentes naquilo que faço mas no final o som é genuinamente Português.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Tenho muitos interesses e amores como o desenho, as motorizadas ou a literatura mas a grande paixão está mesmo na música. 

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Somos sempre felizardos por termos uma forma de nos exprimirmos pois há quem nunca encontre forma de o fazer. Talvez a maior desvantagem que encontro é passar muito tempo fechado numa sala de ensaios quando temos tanto sol e tantas esplanadas.

Quais as tuas maiores influências musicais?
No campo da música há tanta coisa, mas para referir alguns nomes mais importantes posso nomear os New Model Army, os Wovenhand, o Tom Waits e o Carlos Paredes.

Como preferes ouvir música? CD, vinil, K-7, streaming, leitor mp3?
Não tenho formatos de eleição, mas talvez prefira o Vinil pois é o formato reservado para dias mais calmos e especiais.
Na rotina diária nem sempre consigo ouvir a música com a atenção que normalmente dedico ao Vinil.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
A música não está a sofrer. Talvez sofram os que querem fazer vida dela.
Cada geração irá reinventar o suporte ou o canal de propagação, mas a música irá continuar a ser feita sem restrições.
A nova geração de ouvintes parece-me menos disponível à apreciação. É o “mastiga e deita fora” mas decidi não pensar muito nisso. Faço o que sinto ser o mais sincero em termos artísticos e isso salvará pelo menos a minha música.

Qual o disco da tua vida?
Oiço música de forma doentia à 30 anos… escolher um disco é uma tarefa complicada mas acho que há um disco de 1988 que mudou a minha forma de ver o mundo e que ainda hoje me faz manter uma atitude de constante análise e procura. É o “How Will I Laugh Tomorrow When I Can't Even Smile Today” dos Suicidal Tendencies.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Between Dog and Wolf” dos New Model Army

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Neste momento ando a dissecar a discografia dos “16 Horsepower”. Banda anterior do vocalista dos Wovenhand.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Tocar com os copos é mau, mas não nos apercebemos muito bem da figura triste que estamos a fazer. Tocar com um colega de banda perdido de bêbado é muito embaraçoso… Já me aconteceu e só me apeteceu sair do palco a meio do concerto.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Tenho há algum tempo vontade de perder a vergonha e convidar o José Mário Branco para participar num tema meu… Sou fã deste senhor!

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Gostava de ver e ouvir o Tom Waits ao vivo.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Não me importava de abrir o concerto de Tom Waits.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Em Portugal gostaria de tocar no Anfiteatro ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian. Vi lá grandes concertos e tem uma atmosfera excelente!

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Assisti a inúmeros excelentes concertos mas lembro-me particularmente do concerto dos New Model Army na sala THE FORUM em Londres em 2014. Que grande noite! 3 horas de um concerto memorável.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Gostaria de ter ouvido a Amália ao vivo no seu arranque de carreira, num espaço pequeno.

Qual o teu guilty pleasure musical?
A música para mim é algo que transcende estilos. Tenho uma discografia muito variada e oiço qualquer coisa sem preconceitos. É a minha terapia e não consigo associar sentimentos de culpa à minha relação com a música.

Projectos para o futuro?
Não projectar demasiado.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Gostava que em 1990 me tivessem perguntado porque é que eu não experimentava tocar Viola Campaniça pois assim já teria descoberto este instrumento há muito tempo. Eu responderia: Viola Campaniça? Não conheço mas vou procurar! 

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Ficamos agora ao som de "Há Uma Festa Aqui ao Lado", primeiro single extraído do álbum, Longe do Chão.

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