sábado, 13 de maio de 2017

Conversas d'Ouvido com Humbold


Introduzimos mais um nome no nosso dicionário musical, os brasileiros Humbold. Quarteto de rock alternativo, formado por Guilherme de Paula (guitarra, voz), Lorena Lima (baixo), Anderson Freitas (bateria) e Guilherme Breda (guitarra). Estrearam-se em 2016 com o EP I, o primeiro de uma série de três que compõem a odisseia denominada "Entre Mares". Este ano preparam-se para editar os restantes dois EP's desta jornada, enquanto esse dia não chega fomos desvendar um pouco mais sobre os Humbold, em mais uma edição da "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Guilherme de Paula (GP): Acredito que quando meu pai me apresentou o “IV”, do Led Zeppelin. Até então, consumia música de uma forma muito passiva, mas escutar aquele álbum pela primeira vez fez com que me interessasse em procurar mais e mais. A vontade de fazer música veio pela primeira vez quando fui a um show do Muse, em 2008. Ver o que o Matt Bellamy fazia com a guitarra parecia magia. Fui atrás de uma guitarra no dia seguinte. Depois disso, foi só ladeira abaixo (risos). 
Lorena (L): Quando eu assisti ao DVD “The Urethra Chronicles” do Blink-182. Esse foi o meu primeiro contato com os “bastidores” da música e eu fiquei completamente encantada com esse universo musical. E quando eu assisti aos vídeos de shows deles eu tive certeza de que eu queria fazer aquilo também, criar músicas, compartilhar com outras pessoas e ver todo mundo se divertir junto.
Anderson (A): Meu pai tocou violão clássico durante 15 anos, meu tio havia sido percussionista profissional e todos os meus primos tocavam alguma coisa. Então desde muito cedo a música era algo constante na minha vida, fazia parte da linguagem dentro da família, então logo cedo eu já sabia que amava aquilo. Com 6 anos eu comecei a aprender a compor com ajuda do meu pai no violão. Com 8 anos comecei a estudar guitarra e com 11 anos bateria, e tenho estado dentro da música desde então.
Guilherme Breda (GB): Descobri minha paixão por música com o álbum “Californication” do Red Hot Chili Peppers. Meu irmão ganhou o CD logo quando foi lançado e eu escutava quase todo dia depois do colégio. Foi então que comecei a pegar aula de violão popular aos oito anos, sempre participava das rodinhas de violão no colégio. Algum tempo depois fui para guitarra, não estudei muito música mas sempre busquei ter um estilo próprio.

Como surgiu o nome Humbold?
GP: Quando comecei a escrever as músicas dos 3 primeiros EP’s, não tinha qualquer pretensão de que fosse virar uma banda, mesmo contando desde aquela época com a ajuda da Lorena. 
Por outro lado, não gostava da ideia de colocar meu nome só, solto, como o título do projeto. Queria que a música precedesse o autor, não o contrário. Aí, pensei no nome Humbold, que tinha ligação com o conceito dos EP’s e, de alguma forma, era uma desculpa para não colocar só meu nome. Depois, com a entrada do Anderson e do Gui, a coisa tomou uma outra proporção e realmente não faria qualquer sentido pensar nisso como um projeto individual. 

Preparam-se para editar este ano dois novos EP’s, já podem levantar um pouco o véu sobre o que podemos esperar desta trilogia de EP’s (inicada em 2016 com “I”) ?
GP: Sim, claro! A ideia dos três EP’s era que cada um possuiria uma identidade musical e temáticas próprias, com um conceito que transpassaria os três. O primeiro possui uma pegada mais intimista, e tem como ponto central a ideia de perda, do sentimento de ausência. 
O “II” tem uma pegada diametralmente oposta, muito mais pesada e dançante, e sua temática é mais centrada nos mecanismos de fuga que muitas vezes adotamos para não lidar com a realidade. 
O “III”, por outro lado, foca na ideia de síntese, aceitação. São músicas com uma sonoridade mais orgânica, que mescla elementos dos dois EP’s, mas com ingredientes de post-rock e progressivo. 

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
GP: Acredito que Rock Alternativo nos descreva bem. Qualquer coisa além disso é um tiro no escuro (risos). 

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
GP: Cinema e história. 
L: Ciências.
A: Cinema e audiovisual em geral.
GB: Engenharia.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
GP: Como vantagem, é ver a reação de pessoas desconhecidas a algo que fazemos, em primeiro lugar, por prazer. É uma sensação indescritível ver uma música sua sendo capaz de tocar outras pessoas. Como desvantagem, eu citaria as dificuldades em ter que lidar com pessoas que não levam a sério o trabalho com música, desde produtores de eventos até amigos e familiares. Felizmente, principalmente em Brasília, acredito que esse cenário esteja mudando.
A: Concordo com o Guilherme sobre a vantagem, mas sobre a desvantagem eu citaria a falta de um retorno suficiente para viver da profissão, na maioria dos casos, e acho que isso para todo tipo de arte.

Quais as vossas maiores influências musicais?
GP: Se tivesse que citar três, diria Queens of the Stone Age, Muse e The Dear Hunter. Claro que teria que listar várias bandas clássicas para ser justo, mas acho que essas são as minhas principais referências para as quais sempre acabo recorrendo. Acho que outra referência um pouco mais obscura seria uma banda inglesa chamada Pure Reason Revolution. Eles lançaram 3 discos fantásticos e valem a pena serem descobertos.
L: Depende muito do dia (risos). Considerando minhas raízes musicais eu diria toda a cultura do pop punk no geral, mas para a Humbold eu geralmente levo comigo bastante de Of Monsters and Men, Death Cab For Cutie, The Killers e Hands Like Houses.
A: É complicado dizer porque passei por muitas fases e muitos nichos e constantemente ouço um pouco de tudo. Como baterista dentro da Humbold creio que carrego um pouco de bandas como Paramore, Being as an Ocean, This Will Destroy You e Gates. 
GB: Sempre curti muito Rage Against The Machine e U2, também tem Muse, que veio algum tempo depois. Essas são as influências mais fortes no meu estilo de tocar. Mais recentemente eu também citaria Coldplay e Imagine Dragons.

Como preferem ouvir música? CD, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
GP: Acho que preferiria escutar em vinil não pela qualidade em si, mas pelo ritual de poder dedicar um tempo a escutar um disco, ler o encarte, mergulhar no universo de um artista. No dia a dia, acabo dependendo do streaming, por ser mais prático. 
L: Sempre fui apaixonada por CD's, até hoje tenho o costume de comprar vários. Porém atualmente está cada vez mais difícil encontrar aparelhos de som que reproduzam CDs, então acabo recorrendo ao streaming, como disse o Guilherme, por ser mais prático.
A: Eu acho muito legal ter o Cd físico, pra mim é uma relação diferente com a obra, com o disco. Nunca tive a cultura do vinil então tive muito pouco contato, por mais que eu tenha vontade de comprar alguns discos. Diariamente eu ouço por streaming, é mais prático e posso ouvir música literalmente o dia todo e em qualquer lugar, e eu assim o faço, (risos).
GB: Streaming, sem dúvidas. Estou usando o Apple Music e Deezer, mas na minha opinião as melhores playlists estão no Spotify e Youtube. Antes do streaming sempre foi Torrent e iPod.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
GP: Acho que o streaming – e outras tecnologias novas – matam ao mesmo tempo que salvam. Antes de surgir Spotify, Deezer e outros, não havia alternativa para combater a pirataria. Acho que o streaming vem como um meio-termo entre a ausência total de regras do download via P2P e a rigidez da proibição total. 
Do ponto de vista comercial, isso mata a estrutura das grandes gravadoras, mas cria novas possibilidades para novos artistas. Do ponto de vista artístico, isso talvez esteja matando o álbum como formato, já que as pessoas parecem estar deixando de enxergar discos como obras fechadas, que deve ser consumido do começo ao fim. Ao invés disso, as músicas passaram a ser vistas só como novas adições a playlists, a serem tocadas no background enquanto fazemos outras coisas. Isso é um desperdício, na minha opinião.

Qual o disco da vossa vida?
GP: Difícil dizer. Se tivesse uma arma apontada para minha cabeça, diria que é o “Led Zeppelin IV”.
L: Todo dia tenho uma resposta diferente para essa pergunta (risos), mas a maioria das respostas é sempre a mesma: “Plans” do Death Cab For Cutie.
A: Para mim é impossível responder essa pergunta de forma definitiva, mas eu diria que talvez um dos que mais tenha me causado impacto foi o “In Rainbows” do Radiohead.
GB: “Absolution” do Muse.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
GP: Acho que o último disco do Elbow é fantástico. “Magnificent” é uma das músicas mais sensacionais do ano, sem dúvidas.
L: “Dissonants” dos Hands Like Houses.
A: “Blonde” do Frank Ocean.
GB: “Polaris” do Tesseract, recomendação do Anderson inclusive!

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
GP: Tenho escutado muito uma cantora americana, Alexandra Savior. Ela veio trabalhando com o Alex Turner e lançou um álbum muito interessante, que remete a uma versão mais soul da fase “Suck it and See” dos Arctic Monkeys – o que casou maravilhosamente bem com a voz dela. Super recomendado.
L: Estou em uma fase eletrónica ultimamente, tenho ouvido bastante Flume.
A: Tenho ouvido o novo disco da Sevdaliza, o “Ison”. Ela é uma artista Iraniana-holandesa. O som dela carrega muito do trip-hop e de um artpop mais sombrio.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
L: Até agora nenhuma muito memorável, ainda bem (risos), mas sempre me divirto quando me lembro de uma vez em que começamos uma música e o Anderson (baterista) se confundiu e começou outra totalmente diferente. Tivemos que parar e começar de novo.
A: Para mim foi um show em que as baquetas caíram da minha mão pelo menos umas três vezes e fiquei desesperado tentando me virar.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
GP: Acho que escrever uma música com o Lenine seria um sonho. É um artista maravilhoso, versátil e de uma classe única. É o meu compositor brasileiro favorito.
L: Warpaint ou HAIM. Tenho muita vontade de trabalhar com outras mulheres na música.
A: Um sonho seria entrar em estúdio com o Matt Corby e ver o que sairia da mistura.
GB: Sempre quis gravar com algum artista de eletrónica experimental ou mesmo EDM, gosto muito do som dos brasileiros Alok e Gui Boratto.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
GP: Muse, sem dúvidas.
L: Marmozets.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
GP: Acho que um sonho seria tocar em festivais de grande porte, como o Lollapalooza.
L: Sempre foi meu sonho participar de uma Warped Tour, nos Estados Unidos.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
GP: Difícil, mas acho que ficaria com o show do Arcade Fire no Lollapalooza Brasil de 2014.
L: Impossível escolher apenas um (risos), cada show teve um impacto diferente em mim, mas fico com Die Antwoord no Lollapalooza Brasil de 2016, acho que foi o show em que eu mais me diverti na vida.
A: Pergunta difícil, mas dos mais recentes que me recordo, o show do City and Colour no Circo Voador no Rio de Janeiro foi uma das experiências mais arrebatadoras que tive.
GB: Arctic Monkeys no Lolla Chicago 2014, tudo tinha uma vibe incrível, a cidade, a banda, as pessoas.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
GP: Radiohead. 
L: Marmozets, eles parecem ter uma energia incrível ao vivo.
A: John Mayer.
GB: Coldplay.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
GP: Pink Floyd, em Pompéia.
L: No show onde foi gravado o DVD “This Disaster” do New Found Glory.
A: Jimi Hendrix, no Woodstock.
GB: Queen em Wembley ‘86.

Qual o vosso guilty pleasure musical?
GP: Ah, costumo conseguir defender bem meus gostos para me culpar por tê-los. Se tivesse que dizer um, diria o disco solo do Jon Bon Jovi, “Destination Anywhere”. Ouvia quando criança por causa do meu pai e até hoje dá uma sensação gostosa de nostalgia quando escuto, mesmo sabendo que é bem ruim (risos).
L: Eu não considero um guilty pleasure, mas a maioria das pessoas que sabem desse fato consideram (risos) então... eu sou muito fã de Taylor Swift. Adoro tudo o que ela faz musicalmente, principalmente o álbum “1989”, uma obra-prima, na minha opinião.
A: Talvez meu único guilty pleasure seja Anitta.
GB: Acho besteira guilty pleasure, mas o mais perto disso pra mim é o último álbum do Justin Bieber, “Purpose”, escutei bastante (risos).

Projectos para o futuro?
GP: Após o lançamento dos EP’s, vamos focar nossas energias em terminar de compor nosso primeiro cd. Já temos algumas músicas prontas, que já tocamos em shows. Também já temos uma ideia da linha pela qual queremos seguir, então agora é trabalhar em fazer o melhor álbum possível. Depois, tocar, tocar e tocar mais!

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
L: Qual música você gostaria de ter escrito? “Brothers On A Hotel Bed” do Death Cab For Cutie, acredito ser uma das músicas mais lindas que eu já ouvi.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
GP: "California Stars", do Wilco.
L: Nunca pensei nisso mas acho que eu gostaria de "All Is Now Harmed" do Ben Howard, essa música me traz muita paz sempre que a escuto.
A: "Hello I'm In Delaware", do City and Colour.
GB: Sergei Rachmaninoff - Piano Concert N.º 2 in C Minor

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Ficamos agora ao som dos Humbold e do seu single "Rebelião"


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