sexta-feira, 5 de maio de 2017

Conversas d'Ouvido com GNU VAI NU


O GNU escreve, desenha e toca, tem três cabeças, mas um só corpo. O GNU quer ser ouvido. É assim que os GNU VAI NU se apresentam ao mundo. As três cabeças são Bernardo Aguiar, David Alves e Francisco Silva, fomos conhecer melhor este novíssimo projecto de música electrónica, que denota uma elevada preocupação estética.
Se querem ser ouvidos o Ouvido Alternativo dá-lhes voz, em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
GNU VAI NU: É difícil dizer como surgiu a paixão. Desde muito novos que tivemos interesse em começar a estudar música (violino) e esta sempre fez parte do nosso quotidiano. Foi surgindo de um modo bastante natural. Sinceramente, a relação que se foi desenvolvendo entre nós desde muito cedo foi uma das razões deste crescente interesse. Sempre tivemos vontade de fazer coisas em conjunto e desde muito novos que tentámos criar projectos (bastante menos sérios que este!), sempre com o objectivo de explorar o nosso interesse pela música de uma maneira diferente do que nos era habitual. 

Como surgiu o nome GNU VAI NU?
No momento da escolha do nome pareceu-nos óbvio referenciar algo que realmente fosse uma inspiração para nós, não só a nível musical mas também como projecto artístico. Por esta razão e baseados num famoso filme de Andrei Tarkovsky, quisemos homenagear a preocupação para com a perda da espiritualidade no mundo contemporâneo. 

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Já nos incluíram em vários estilos, desde minimalistas a psicadélicos, sendo que o ponto comum é sempre a electrónica. Honestamente, nós não estamos totalmente de acordo com nenhuma delas. Em nenhum momento fizemos as músicas com a preocupação de as incluir num determinado estilo. Ainda assim, se tivermos de descrever a nossa música com base em categorias talvez electrónico/alternativo com um forte carácter melódico, o que contrasta com o electrónico mais tradicional. Também há que considerar que este é o nosso primeiro álbum e que temos uma grande diversidade de influências e de experiências musicais entre os três. É natural que ainda nos estejamos a definir. 

Parece-nos que denotam um especial cuidado com a estética musical, com o simbolismo com que se definem, para vocês a música é muito mais do que uma sonoridade?
Criámos o GNU VAI NU com o objectivo de poder intervir enquanto grupo nas várias vertentes artísticas que nos interessavam. Esta é uma das razões pela qual damos tanta importância ao carácter estético do projecto, seja ele sonoro ou visual. Neste caso é importante para nós que a música, muito além de mera sonoridade, seja também uma experiência significativa para todos os seus intervenientes. 

Editaram este ano o vosso debut "Platronic”, para quem ainda não o ouviu o que pode esperar?
Pode esperar eletrónica instrumental na qual a melodia tem sempre uma importância predominante ao longo do álbum. Neste primeiro projecto quisemos mostrar a nossa paixão pelo mundo dos sintetizadores, drum machines, samplers, e toda a variedade musical que estes proporcionam.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Todos temos interesses fora da música apesar de tendencialmente estarem relacionados com outros campos artísticos, alguns dos quais esperamos poder explorar neste projecto. Em relação a interesses individuais podemos destacar:
Francisco (F): Cozinhar.
David (D): Artes visuais em geral.
Bernardo (B): Cinema, Fotografia e jogos de mesa.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem para nós é poder fazer algo novo todos os dias, já que o controlo está totalmente nas nossas mãos. Não há necessidade de cair na monotonia. Como desvantagem, podemos referir a incerteza de retorno face ao investimento de tempo e esforço.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Todos nós temos várias influências, que vão desde o clássico até ao mais alternativo. Vamos nomear as que de momento consideramos mais importantes:
B: LCD Soundsystem; Arcade Fire; Rone; !!! (chk chk chk) e Portishead.
F: Gorillaz; Vampire Weekend; Metronomy e Alt-J.
D: Bach; Radiohead; Bob Dylan; Vampire Weekend; Carlos Zíngaro; Andrew Bird.


Como preferem ouvir música? CD, vinil, K-7, streaming, Mp3, etc?
F: No quotidiano streaming, em casa vinil. 
D: Leitor mp3, CD ou Rádio.
B: Depende da situação… mas em geral streaming ou CD.

O streaming está a "matar" ou a "salvar" a música?
Nem uma nem outra. Para começar a música não precisa de ser salva. O streaming traz as suas vantagens e desvantagens: pela parte positiva faz com que a música esteja mais acessível e, consequentemente, que seja mais fácil a sua divulgação. Por outro lado, com tanta oferta, faz com que o público em geral não atribua o devido valor e atenção a cada trabalho musical.

Qual o disco da vossa vida?
De momento lembramo-nos destes mas honestamente não temos um disco a que possamos atribuir semelhante distinção:
F: Yo-Yo-Ma plays Ennio Morricone - oiço este álbum sempre seguido do princípio ao fim. Tenho muitas memórias associadas a cada uma das suas músicas.
D: Provavelmente todas as The Basement Tapes do Bob Dylan - na minha opinião esta foi a série de trabalhos em que o Bob Dylan teve mais oportunidade para experimentar e fugir ao que era esperado dele, resultando na sua produção mais interessante e significativa para mim.
B: Illinoise do Sufjan Stevens - lembro-me que este foi o primeiro álbum que me impressionou pela variedade de estilos incluídos. Há uma coerência estilística ao longo de todo o álbum sem que todas as músicas soem ao mesmo, o que para mim tem imenso valor.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
D: O último do Bon Iver, "22, A Million”.
F: Não é bem disco, mas os últimos singles dos Alt-J.
B: Não sei se “maravilhado” é a palavra certa… mas talvez “Night Melody” do Rival Consoles.

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
F: Gorillaz; Alt-J; Snarky Puppy; Silvia Pérez Cruz; Tiago Bettencourt, Sensible Soccers.
B: Sufjan Stevens; Rone; B Fachada; Rival Consoles.
D: Mndsgn; Nuova Camerata; Vulfpeck; Tycho.


Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
F: Entrar em palco e só estar presente metade da orquestra.
B: Ter partido o arco do violino no intervalo, não podendo fazer a segunda parte.
D: O telemóvel no bolso, que começou a tocar em alto e bom som.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
Seria uma honra abrir um concerto para qualquer um dos artistas que mencionámos anteriormente, sendo que talvez nos identifiquemos mais na estética do Noiserv, PZ, Woodkid, Metronomy, Gorillaz e LCD Soundsystem.

Com que músico gostariam de efectuar uma parceria?
Consideramos que fazer uma parceria seria sempre algo muito enriquecedor para nós, especialmente se for com artistas de estilos diferentes do nosso. Esta junção de diferentes estilos é algo que nos interessa e desperta muita curiosidade. De momento, se pudéssemos escolher, seriam estes:
B Fachada, Woodkid, Andrew Bird, Noiserv, Sufjan Stevens, Tyler the Creator, Bon Iver, The Legendary Tigerman…

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
Há vários festivais nos quais gostaríamos de participar: Vodafone Mexefest, Primavera Sound, Bons Sons, Sónar, Coachella, Glastonbury.

Qual o melhor concerto a que já assistiram? 
D: The National no Pavilhão Atlântico.
B: Arcade Fire no Super Bock Super Rock.
F: Arcade Fire no Super Bock Super Rock.

Que banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
F: Woodkid.
D: Radiohead.
B: Sufjan Stevens.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de ter estado presentes?
B: LCD Soundsystem no Madison Square Garden.
F: Concerto de Colónia do Keith Jarrett.
D: Jimmi Hendrix em Woodstock.

Qual o vosso guilty pleasure musical?
D: Pink Guy.
F: Musicais vários, Abba, etc…
B: Taylor Swift.

Projectos para o futuro?
Temos várias ideias e projectos já planeados. Tal como já foi mencionado anteriormente, criámos o GNU com o objectivo de poder intervir em grupo nas nossas áreas de interesse. Para além de continuarmos a trabalhar em músicas novas, recentemente acabámos a rodagem do primeiro videoclip, que está em fase de pós-produção e estamos de momento a preparar o nosso live set.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
O GNU é macho ou fêmea?
O GNU transcende essas questões binárias de género, é uno em toda a sua magnanimidade.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
B: Discografia completa do B Fachada em loop.
F: "Ma Mère l'oye - Le Jardin Féerique"  de Ravel.
D: "Ombra Mai Fu" de Haendel ou a versão do Ben Folds do "Bitches Ain't Shit".

Obrigado pelo tempo despendido e boa sorte para o futuro.
Nós é que agradecemos pelo interesse no projecto e sigam-nos no nossa página oficial de facebook para saber as nossas últimas novidades. Beijinhos e abraços!

Terminamos ao som do debut Platronic, que se encontra disponível para escuta e download (possivelmente gratuito), através da plataforma Bandcamp.

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