terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Conversas d'Ouvido com Luca Argel

Estivemos à conversa com o cantautor brasileiro, Luca Argel. O compositor, cantor e poeta reside desde 2012 em Portugal na cidade do Porto, vocalista dos Samba Sem Fronteiras, prepara-se para editar o seu segundo disco Bandeira. Nesta conversa informal e descontraída descobrimos alguém apaixonado pelo samba e por nomes como Noel Rosa e João Gilberto. Gostaria de abrir um concerto para Lula Pena, efectuar um dueto com Caetano Veloso e actuar na Galeria Zé dos Bois. Isto é apenas uma amostra do que podem desvendar nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...


Como surgiu a paixão pela música?
Não sei dizer. Entre os 11 e 12 anos eu comecei a me interessar de forma mais “séria” por música e meus pais nunca se opuseram, pelo contrário, me estimularam, apesar de não haver músicos na minha família. Quando me dei conta estava na faculdade de música sem ter sequer passado por aquele momento de dúvida que geralmente os adolescentes têm, de “qual vai ser minha profissão??”. Para mim sempre foi o caminho mais óbvio ir fazer música.

Foste tu que escolheste o Porto, ou foi o Porto que te escolheu?
O Porto que me escolheu, definitivamente.

Preparas-te para editar o teu segundo álbum, já podes levantar um pouco o véu, sobre o que podemos esperar de “Bandeira”?
Sim, para quem acompanha o que tenho feito aqui no Porto nos últimos anos, como vocalista dos Samba Sem Fronteiras, não é muita surpresa, ou pelo menos não deveria ser. É um disco de canções, de sambas, quase todas. Apenas num registo mais despido, sem a banda por trás. As letras e a voz são o foco do disco.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Gosto da palavra “cantautor”, ela resume bem o que faço. Escrevo minhas músicas e as canto, é uma coisa simples, e que as pessoas fazem há milénios sem conta, mas que no entanto nunca perde o vigor.

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasens mais alguma grande paixão?
Tenho uma outra atividade, que é a poesia. Mas não a considero “outra”. A música que canto e a poesia que escrevo vêm todas do mesmo lugar, apenas algumas tomam o caminho dos livros, outras da voz. Outra paixão que tenho é Star Wars.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem é não ter rotina, no que isso dá de liberdade. A maior desvantagem é não ter rotina, no que isso dá de instabilidade.

Quais as tuas maiores influências musicais?
No campo da canção, acho que Noel Rosa é uma influência fortíssima, talvez a maior. Já no campo da interpretação e concepção de sonoridade, é João Gilberto. Mas alargando um pouco o horizonte, sou maluco por Radiohead, pelo Manel Cruz, pela Lula Pena, e tenho uma relação fortíssima com o trabalho do Rodrigo Amarante também.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Streaming e vinil. Espero ainda viver para ouvir música num vinil que toque via streaming.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Acho que o streaming não tem força suficiente para matar, nem para salvar a música. É mais um veículo de circulação, como o rádio, a tv, os discos, o torrent. Acho ótimo que ele exista, mas jamais ele vai substituir, por exemplo, a experiência de se ir ouvir música ao vivo. E enquanto as pessoas ainda estiverem dispostas a sair de casa para ir ouvir música ao vivo, a música vai sobreviver.

Qual o disco da tua vida?
Ventura, do Los Hermanos.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
A Mulher do Fim do Mundo, da Elza Soares.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Um compositor chamado Wilson Moreira, muito ligado na representação das raízes africanas do samba.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Os concertos de samba (as “rodas” como a gente gosta de chamar também), tem um clima bem informal, então acontece muito do pessoal (já com os copos) se animar e pedir pra cantar ou tocar uma. No início a gente sempre deixava, pela brincadeira, mas um dia um menino chegou, pegou na guitarra, tocou tão mal, mas tão mal, que a banda não conseguiu nem acompanhar. No final (nem lembro como conseguimos terminar o tema) o público já estava injuriando e o menino queria tocar mais uma. O pessoal começou a ensaiar uma vaia, a gente não deixou ele tocar outra, e o sujeito quando saiu ainda mandou umas bocas dizendo que a gente não sabia tocar. Daí ele foi embora, o resto do concerto foi espetacular, e agora já não deixamos qualquer um subir no palco...

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Com o Caetano Veloso!

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para a Lula Pena.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Gostava tanto de atuar na Galeria Zé dos Bois... Mas diz que a agenda deles é super cheia, então nunca tentei.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Bobby McFerrin, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Hermeto Pascoal.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Um dos concertos em que Deep Purple gravou o Made in Japan.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Spice Girls.

Projectos para o futuro?
Um novo disco que eu consiga tocar com uma banda. Pagar a segurança social.(risos)

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Gostava tanto que me perguntassem o que eu acho do universo cinemático da DC Comics... Eu responderia que acho uma porcaria, apesar do Batman ser meu super-herói favorito.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Porta Afora", de um grupo chamado Cadáver Pega Fogo Durante Velório. (é sério).

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Apresentamos agora o single "Estar o Ó, ep. 1", extraído do disco Bandeira.

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