quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Conversas d'Ouvido com Hover

Estivemos à conversa com a banda brasileira Hover, em mais uma edição de "Conversas d'Ouvido". Os Hover são Saulo von Seehausen (voz, guitarra), Felipe Duriez (guitarra), Lucas Lisboa (guitarra), Pedro Fernandes (baixo) e Álvaro Cardozo (bateria). Nesta entrevista descontraída falamos do passado e de como surgiu a paixão pela música, do presente centrado do disco de estreia e dos projectos para o futuro. No entanto há muito mais para descobrir sobre os Hover nas linhas que se seguem...



Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
SauloSegundo minha mãe, ela já colocava música clássica e rock para eu ouvir quando ainda estava em sua barriga. Essa paixão como ouvinte sempre existiu na minha vida, desde que me entendo por gente (ou antes). Minha avó tinha um piano em casa, que ninguém sabia tocar, e um dia minha mãe me pegou aprendendo sozinho o hino do Botafogo, time pelo qual a família inteira torce. Tinha 3 anos de idade! Pouco depois pedi para entrar na aula de piano. Acho que aí começou de verdade essa paixão por ser músico, criar coisas, aprender música.

Como surgiu o nome Hover?
Felipe: Era o nome de uma das músicas que fizemos no início da banda. Significa "pairar". No final não concretizamos a canção, porém aproveitamos o nome.

Editaram no ano passado o vosso debut “Never Trust The Weather”, que foi aclamado pela crítica. Estavam à espera de tamanha repercussão?
Felipe: Esperávamos um resultado positivo, já que estávamos rodeados por pessoas muito talentosas e que acreditavam no resultado final do nosso disco. Amadurecemos muito do EP até o NTTW. Ouvimos coisas diferentes e buscamos chegar a um ponto comum entre os integrantes. Em 2016 fomos citados em vários blogs, fizemos shows incríveis e está sendo fantástico colher os frutos de um trabalho feito com muito amor e dedicação.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Felipe: Hoje em dia, todos somos tudo e nada ao mesmo tempo. Ouvimos MPB, rock, forró, samba, mais rock, jazz, blues e tentamos sintetizar na nossa música. Já falamos que somos "rock anternativo", "indie", "rock" e etc; talvez "rock moderno" seria o mais próximo do que nos propusemos.

Conseguem explicar-nos como se desenvolve o vosso processo criativo?
Felipe: O processo criativo é bem dinâmico hoje dia. Na maior parte das vezes, o Saulo nos traz uma ideia e partimos daí, fazendo riffs, vendo cores nas notas e deixando que tudo tome forma. Um dia estava em casa e recebo a seguinte mensagem: "amigo, cria um riff 3/4 em E (Mi)". Era o riff estranho de Teeth. Esse foi só um exemplo. Cada um vem com um sorriso, roupa estranha, melodias e pijamas. Tudo nos inspira quando nos amamos e tocamos juntos.

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasêm mais alguma grande paixão?
Felipe: Todos temos, eu acho. Álvaro tem algumas orquídeas lindíssimas em sua casa, um amante da natureza. Lucas, nas horas vagas, costuma praticar surf na praia do Leme, no Rio de Janeiro. Eu me tornei um filatelista depois de achar a coleção de selos do meu avô, e Saulo está fazendo um curso de culinária tailandesa bem bacana no momento.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Pedro: A maior vantagem é trabalhar com algo que mexe no que há de mais interno e escondido nas pessoas. Uma letra, uma sonoridade ou qualquer atitude pode fazer alguém se identificar. Essa proximidade é espetacular, por mais que às vezes as pessoas estejam distantes. Ver que gostam do que você produz é uma recompensa para qualquer esforço. A desvantagem é ser pouco valorizada em alguns locais. Quem tem o papel de valorizar isso não faz e muitos talentos ficam pelo caminho.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Pedro: Red Hot Chili Peppers, Ramones e Beatles. Esses nomes influenciam diretamente na minha base musical, mas qualquer outra banda que fizer uma música que me toque, me mostre algo novo e interessante, se torna uma influência. Aquela vontade de "eu queria ter feito essa música" é o suficiente para ficar guardado como referência.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Pedro: Pela facilidade, o streaming permite ouvir o que eu quero em qualquer lugar. Mas se for para apreciar um disco, o CD e o vinil são as minhas maneiras preferidas.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Pedro: Acredito que ele dá uma nova vida. A música não estava morrendo pra ter uma salvação, mas o streaming coloca o som mais acessível a todo mundo, na hora que quiser, no lugar que quiser. Ele ainda é um espaço acessível para as pessoas conhecerem coisas novas. TV e Rádio apresentavam o que era tendência mas a Internet pulverizou isso. O streaming vem para contribuir com a divulgação e o acesso ao material do músico. Mas, como qualquer nova tecnologia, tem que ser estudada para ser bem utilizada e não se tornar prejudicial.

Qual o disco da tua vida?
Pedro: Red Hot Chili Peppers - "Californication". Foi o primeiro disco que juntei dinheiro para comprar. Ele me fez querer ter uma banda. Me fez gostar de rock e tocar baixo. Foi revolucionário, um marco na minha vida: a.C. (antes de Californication) e d.C. (depois de Californication).

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Álvaro: "Convoque seu Buda", do Criolo.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Álvaro: Tenho ouvido bastante Hiatus Kayote, BaianaSystem, Citizen Cope e Mastodon!

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Álvaro: Lembro-me de duas! Uma em um show do B-Negão que fui assistir, quando estava andando de skate esperando o show começar e em um determinado momento quase bati em alguém. Fui ver e era o próprio B-Negão.
A outra foi num show nosso que teve um tipo de show de Stand Up Comedy antes, só que não tinha a menor graça... Já estávamos em cima do palco, rindo de maneira forçada, esperando acabar aquilo para o show começar. Foi bem estranho.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Álvaro: Uma banda instrumental que também é da nossa cidade natal, chamada Avec Silenzi.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
Álvaro: Seria bem legal tocar junto com o Hellbenders!

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
LucasTocar em grandes festivais é uma meta. Tem muitos eventos legais por aí, e são boas chances de troca de energia com o público e também de troca de experiências com outros artistas.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Lucas: A banda brasileira com o melhor show e melhor energia em palco que eu já vi é o Far From Alaska. É absolutamente incrível o que elas e eles fazem ao vivo.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
Lucas: Uma banda que gosto muito e está na minha lista de shows para ver antes de morrer é Deaf Havana. O trabalho deles influenciou bastante o nosso som e gostaria muito de vê-los ao vivo. Outra banda, essa mais famosa, é Death Cab For Cutie. Incrivelmente eles nunca tocaram no Brasil. Vamos ver se na tour do disco novo isso acontece.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Lucas: Acho, que dois momentos para os quais eu me tele-transportaria se pudesse, era o Woodstock e também para qualquer show dos Beatles.

Projectos para o futuro?
Lucas: Esse ano de 2017 ainda vamos trabalhar bem o disco que lançamos ano passado, vem clipe novo, muitos shows e algumas outras coisas. Mais para o fim do ano a gente vai começar a juntar as composições novas para formatar o próximo disco.

Qual o vosso guilty pleasure musical?
Saulo: Axé Brasil Anos 90! Era terrível, mas quando toca numa festa... Sucesso total!

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Saulo: Posso inverter e fazer uma pergunta para o Ouvido Alternativo? Como conheceram nosso som? Fiquei curioso com isso!
Ouvido Alternativo: É a primeira vez que nos fazem isso (risos). Um dos nossos passatempos preferidos é passarmos longas horas da noite ouvindo música através das plataformas digitais e aproveitando as sugestões de Spotify, You Tube, Last.fm, Bandcamp, etc, assim vamos descobrindo e conhecendo novas bandas e novas sonoridades. Foi assim que surgiu o nome dos Hover. Adoramos descobrir música nova de todos os cantos do mundo.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
Saulo: Difícil pensar nisso (risos) mas acho que iria com "After All These Years" - Silverchair.

Obrigado pelo tempo despendido. Boa sorte para o futuro.

Terminamos agora ao som do single "Teeth"


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