domingo, 29 de janeiro de 2017

Conversas d'Ouvido com Xóõ

Estivemos à conversa com o super-grupo brasileiro Xóõ. Este colectivo é formado por sete músicos relevantes no panorama independente do Brasil. Bruno Schulz (produtor e músico que já colaborou com Cícero), Cairê Rego e Felipe Pacheco dos Baleia, Vitor Brauer dos Lupe de Lupe, Gabriel Ventura (Posada, Cícero, Duda Brack, Ventre), Hugo Noguchi (SLVDR, Ventre, Posada) e Larissa Conforto (Cheddars, Ventre). No ano passado editaram o debut homónimo aclamado pela crítica. Esta edição das "Conversas d'Ouvido" é imperdível para ficarem a conhecer melhor um dos fenómenos da música indie brasileira pela voz da baterista Larissa...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Larissa Conforto: Para mim é a música que escolhe a gente. Comigo foi assim: quando vi já estava tocando com amigos e formando bandas. Mas tem um momento da vida que a gente entende que precisa viver disso senão nada vai fazer sentido. Acho que a minha veio do rock dos anos 90. 

Como é que nasceu o projecto Xóõ?
Tudo começou como um disco solo do Vitor Brauer, o vocalista, guitarrista e compositor da banda Lupe de Lupe, de Belo Horizonte/Minas Gerais, que acabou se tornando nosso amigo nas estradas da vida. 
Separamos uma semana no Swing Cobra, nosso estúdio colaborativo localizado no Rio de Janeiro - onde ensaiamos, gravamos, colaboramos em projetos e produzimos música juntos - para produzir um disco do zero, sem nenhuma pré-produção ou canção pronta.
Tudo foi criado na hora, em conjunto, e acabamos nos envolvendo tanto com o projeto que o Vítor sugeriu que fôssemos uma banda, ao invés de um projeto solo produzido por muitas mãos. 

Como surgiu o nome Xóõ?
Veio do Vitor. Xóõ é um dialeto africano quase extinto que possui uma grande quantidade de fonemas, sendo considerado o idioma mais difícil do mundo. 

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
A gente não se enquadra muito numa definição específica, ficamos ali no rock alternativo/experimental. 
Mas se fosse p'ra definir, talvez: "axé-punk-spoken-funk-brasileiro"? Rs. Melhor não, né?

Conseguem explicar-nos como se desenvolve o vosso processo criativo?
Tudo se dá em estúdio. Alguém traz uma idéia ou referência, e vamos criando em cima. Geralmente começa no ritmo - a bateria - e o restante vai sendo criado como uma espécie de improvisação. As partes vão aparecendo: verso/refrão... e só no final as letras entram. É interessante comentar que boa parte da criação se dá na edição, porque é lá que definimos as partes, as repetições, o que fica e o que é descartado. É um disco de pós-produção, com certeza. O processo criativo começa na gravação e termina na masterização. 

Recentemente lançaram o videoclipe de "Cansado" extraído do vosso debut, no entanto já planeiam o vosso segundo álbum que será editado este ano, o que podemos esperar?
O videoclipe de "Cansado" foi um presente de um amigo, que coreografou a música. Ele faz parte do repertório do nosso álbum de estréia, o autointitulado "Xóõ", lançado em 2016. 
O segundo álbum já está gravado e tem lançamento previsto para 2017. Nem a gente sabe o que esperar! Musicalmente, a doideira de sempre, embora um pouco mais raivosa devido aos últimos acontecimentos políticos no nosso país. Se tem algo que eu posso dizer acerca do próximo álbum é que ele não está em cima do muro.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Acho que a música é a paixão central de todos nós. E o que vem com ela: os encontros, os amigos, a cerveja...

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A grande vantagem em ser música é o amor pelo meu trabalho. Eu acredito no poder transformador da música na vida das pessoas, e o músico é apenas um transmissor dessa frequência. O mais importante é a troca, e viver isso é uma dádiva muito grande. Não tem nada a ver com acumular riquezas,  como na maioria das profissões. Os valores são outros.
A desvantagem é que podemos nos tornar workaholics, justamente por gostar muito do que fazemos. É muito fácil estar sempre envolvida, e acabar nunca parando para descansar ou fazer outra coisa. A falta de tempo livre também prejudica. É um desafio equalizar a vida profissional com a pessoal, porque ambas envolvem música. 
Mas estamos aí na batalha!

Quais as vossas maiores influências musicais?
Somos 7 cabeças bem fritas. Durante o processo do disco trocamos referências de música brasileira, música eletrónica, rap e punk rock. Posso citar Nirvana, Death Grips, Burial, Atoms For Peace, PJ Harvey, Thundercat, Modeselektor, Deftones e Black Alien, por exemplo!

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Eu sou do download (mp3) e do CD. Mesmo. Tenho discman, gosto de ter o disco físico de quem amo. Mas coleciono K7s de bandas nacionais e gosto muito de comprar os discos que amo em vinil. 
A nossa geração é muito familiarizada com o download e com os grupos de compartilhamento online. Acho que ainda não perdemos isso. Mas as versões físicas sempre vão existir, são um fetiche. Temos uma relação muito legal com as plataformas de streaming, claro, gostamos de criar playlists, de seguir os artistas que gostamos, e interagir diretamente com o público interessado em música nova. Então é um mix de tudo, na verdade!

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Nenhum dos dois. Está aí p'ra propagar a música, assim como os outros formatos. É uma alternativa, uma nova maneira de consumir música, que não anula as antigas, pelo contrário. Acho que tem mais a ver com criar novos públicos e democratizar a música, num tempo em que a juventude está muito conectada e pouco atenta. Surgirão outras maneiras ainda!

Qual o disco da tua vida?
O meu disco de cabeceira é o Bold As Love, do Hendrix. Posso citar o Grace, do Jeff Buckley, como um dos álbuns que mudaram minha vida, e o White Pony, do Deftones, como uma das minhas maiores influências na bateria. Mas é quase impossível indicar um só. Tanta música boa sendo feita no mundo!

Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Acho que o último do Hiatus Kaiyote. Um absurdo.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Tenho ouvido música feita por mulher. "Tô" redescobrindo a Björk, PJ Harvey, Fiona Apple, Regina Spektor, St Vincent, Warpaint... E brasileiro tem Rakta, Def, Metá Metá, Carne Doce, Mietta, In Venus, The Shorts, My Magical Glowing Lens, Brvnks, Lava Divers, Biggs, Chico De Barro, Trash No Star, Post... e tem mais um monte por aí.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Em um show no Rio, o Vitor saiu do palco e não tínhamos certeza se ele voltaria. Ficamos imóveis, até que o Bruno (Schulz, tecladista e guitarrista) puxou um improviso e nós fomos na onda. O Vitor voltou certinho na entrada da última música, foi bem emocionante.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Meu sonho da vida é tocar com o Jack White. Era p'ra pensar baixo?

Para quem gostariam de abrir um concerto?
Nossa, que difícil. P'ra qualquer um que goste da nossa música!

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
Nós não fizemos muitos palcos como Xóõ ainda, apenas com nossas bandas paralelas. Se é p'ra voar, vamos de Lollapalooza? 

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Radiohead, sem sombra de dúvidas.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
The Dead Weather, Warpaint, Fiona Apple... Tantos que ainda não vieram!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Só consigo pensar na gravação do Jeff Buckley Live in Chicago, em 1995; ou então no Jack White no Lollapalooza de Chicago, que ele começou com a banda de mulheres e terminou com a banda de homens. Chicago brilhando, put* merda.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Maroon 5. Amo os dois primeiros discos.

Projectos para o futuro?
Muitos! Tem um álbum novo a ser lançado, queremos tocar muito mais pelo Brasil, e quem sabe fora?

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Eu já sou ruim de responder, de perguntar então... hahaha difícil essa!

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
 "Without It", do Mute Math. 

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.


Obrigada a você! Um abraço, até a próxima :}

Apresentamos agora o belíssimo vídeo para o tema "Cansado"

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