terça-feira, 31 de maio de 2016

Conversas d'Ouvido com MulherHomem


Estivemos à conversa com a banda portuguesa de rock MulherHomem, formados por Bruno Broa (voz), Luís Balinho (guitarra) e Alexandre Nascimento (bateria). Descobrimos três pessoas com alguns gostos distintos mas que se complementam. Falamos de paixões, influências, descobertas musicais, guilty pleasures e muito mais para descobrirem na nova edição de "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Alexandre - Não sei, mas creio que foi-se desenvolvendo ao longo do tempo e por razões diferentes, mas creio que ter crescido a ouvir muito rock progressivo contribuiu para tal. Essa paixão já em relação ao ser músico e ser mais cuidado ou seletivo no que oiço surgiu mais tarde quando "voltei" a ouvir música, desta vez procurando tudo o que se fazia na altura e trocando impressões com os amigos, por volta dos 15 anos.
Bruno - Gostava de pensar que é algo que está nos genes, mas no sentido reprimido. Não pela música no sentido restrito, mas na possibilidade de expressão sob a forma livre da arte. E isso sim, creio que está nos genes, e reprimida porque na minha família existe em abundância mas a vida não facilitou a que os meus antepassados a pudessem exercitar como eu o faço. É um orgulho, uma responsabilidade e uma alegria puder fazer em nome de todos eles.
Luís - Influência paterna. Durante a infância ouvi os discos do meu pai quase em modo repeat. Principalmente discos de rock'n'roll.

Como surgiu o nome MulherHomem?
Alexandre - A pessoa ideal para responder isso penso que será o Balinho, pois ele diz que há uma explicação, segundo ele apenas pela fonética, mas acho que todos temos as nossas dúvidas (risos).
Bruno - O Balinho é o responsável por isso, mas começo a acreditar na necessidade da criação de uma mitologia. Afinal, não deixa de ser um exercício de criatividade. Seria fantástico dizer que o nome da banda foi incentivado por guerrilheiros do norte da Nicarágua fãs de música portuguesa e de bares alternativos do cais do sodré, que num encontro fortuito na ginginha perto do Coliseu lhe sugeriram o nome.
Luís - O nome surgiu numa ida para um ensaio e quer dizer o seguinte:

Para além da música, têm outra grande paixão?
Alexandre - Na verdade a minha grande paixão são os carros, a musica é que é a outra grande paixão.
Bruno - Ciências políticas.
Luís - Qualquer desporto que não seja motorizado

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Alexandre - Vantagem acho que como qualquer trabalho de arte, o enorme prazer ao criar, e o chegar às pessoas, ou seja, o tentar sempre explorar coisas novas e puxar os limites, na parte criativa, e o chegar às pessoas quando vemos que é bem recebido do outro lado. Desvantagem, exactamente como tudo mas mais uma vez principalmente nas artes, é o ser acima de tudo um negócio para todos menos para o músico neste caso. Para um músico começar a ser realmente um músico e lhe ser dado valor, refletindo-se monetariamente é claro, é preciso ter-se alguma sorte para não se cair naquilo que eu posso chamar indiferença, seja por parte das pessoas como por todo o meio no geral, sem Alguém (com A grande), a dizer que somos os maiores, mesmo sendo ou não sendo, seremos só mais uma banda, acho que na arte ninguém gosta de ser indiferente.
Bruno - As mesmas que em outras áreas da vida, onde o que apenas muda é o cenário e o léxico. A nós resta fazer o que todos fazem... é continuar a fazer o que se gosta, celebrar quando resulta, cagar e seguir em frente quando não funciona.
Luís - A maior vantagem é o prazer que se tem ao criar/tocar e a grande desvantagem é a parte financeira.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Alexandre - Não sei dizer bem pois oiço muita coisa e bem díspares umas das outras, mas talvez no que diga respeito ao meu trabalho enquanto músico, principalmente projetos que tenham baterias elaboradas pois servem de objeto de estudo.
Bruno - Tudo que me capte a atenção, de Wagner a Stina Nordenstam.
Luís - A minha maior influência é capaz de ser o Jerry Cantrell.

Como preferem ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Alexandre - CD
Bruno - Via youtube
Luís - CD

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Alexandre - Depende do ponto de vista parece-me, pode matar o negócio mas salva a verdadeira música e os verdadeiros músicos, se é que me entendem. Acho que este pode ser um ponto de vista.
Bruno - É mais uma plataforma a explorar.
Luís -  Nem uma coisa nem outra, é mais uma forma de ouvir música.

Qual o disco da vossa vida?
Alexandre - "Meddle" de Pink Floyd, de pois de uma recente análise a esta pergunta feita anteriormente, consegui definir esse como disco da minha vida, apesar de ter bastantes.
Bruno - O disco rígido. Guarda tudo o que preciso. (risos)
Luís - Jeff Buckley - "Grace"

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
Alexandre -  Maravilhado, penso que o "Asymmetry" dos Karnivool
Bruno - Um disco de versões por Stina Nordenstam
Luís - Queens Of The Stone Age - "...Like Clockwork"

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
Alexandre - De momento oiço muita coisa nem vale a pena fazer a lista, mas a minha mais recente descoberta musical e que me surpreendeu muito foi Run The Jewels
Bruno - Não sei explicar porquê, mas "Helligoland" dos Massive Attack
Luís - "AAA" - Granada e "B'lieve i'm goin down..." - Kurt Vile

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Alexandre - Não sei se me lembro de alguma, mas tocar pior que bêbado não é uma experiência assim muito interessante.
Bruno - Um espanhol acompanhado por um belo travesti pedir-nos para tocar rock no popular de alvalade
Luís - Ouvir o noticiário da TSF ou da Renascença a sair do amplificador. Penso que o cabo da guitarra fez de antena. Não sei. Foi demasiado mau.

Com que músico gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Alexandre - Não sei, mas acho que qualquer um que conseguisse criar uma boa simbiose em palco e que nem um nem outro saísse ofuscado pelo outro.
Bruno - Lara Li
Luís - Pedro Moreira Dias (ele ainda não sabe que é músico)

Para quem gostariam de abrir um concerto?
Alexandre  - Deftones
Bruno - Seja para quem for. Gostamos de tocar e ponto final. Todas bandas com quem já tocamos, deixaram-nos orgulhosos por fazer parte daquele momento.
Luís - Monotonix, mas já acabaram.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam de um dia actuar?
Alexandre - Todos, acho que não consigo escolher nenhum em particular.
Bruno - Coliseu de Lisboa
Luís - Coliseu de Lisboa

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
Alexandre - Pink Floyd foi o mais marcante certamente, mas tenho visto uns quantos que estão no top um deles tenho que dizer porque foi num sitio que nunca esperei ser top, mas Sinistro no Sabotage há pouco tempo atrás, fiquei incrivelmente surpreendido com tudo.
Bruno - Portishead 1998 Zambujeira do Mar
Luís -  Rage Against The Machine no Alive 2008

Que artista ou banda mais gostariam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
Alexandre - Dillinger Escape Plan
Bruno - Philip Glass
Luís - Death From Above 1979

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) que gostariam de ter estado presente?
Alexandre -  Eu mordo-me de cada vez que penso que perdi A Perfect Circle e Auf Der Maur no Campo Pequeno...
Bruno - O primeiro concerto de sempre de Mão Morta
Luís - Qualquer um dos Nirvana em que o palco foi totalmente destruído.

Qual o vosso guilty pleasure musical?
Alexandre - Devo ter vários, principalmente se for buscar aqueles hits dos 80's, mas aquele que me veio a cabeça logo foi Ece Seçkin - Şok Oldum, descobri quando num restaurante turco passava na tv, e pensei logo, esta musica horrível é brutal!
Bruno - Nicki Minaj em especial a música “Stupid Hoe”
Luís - Alguma música pop dos anos 80

Projectos para o futuro?
Alexandre - Ter tempo, para ter projetos.
Bruno - Fazer um disco por ano, tocar em tantos palcos que até as palmilhas dos ténis se derretam.
Luís - Fazer a próxima música.

Próximos concertos?
MulherHomem - Em processo de marcação. Quando os promotores de música se lembrarem que o email é para abrir, que os links são para clikar e que a música é para se ouvir e se depreender sem preconceitos se é boa ou não. Não porque é uma banda de um amigo, ou porque os likes no facebook não são suficientes ou por qualquer outra razão idiota que não interessa à musica em portugal.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
Alexandre - Qualquer coisa de Sun O))) seria interessante.
Bruno - Brahms' Requiem - "Denn Alles Fleisch Es Ist Wie Gras"E não é uma resposta da cagança, é realmente algo de maravilhoso e poético, porque de facto toda a vida é frágil e passageira como um fio de relva.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Relembramos que podem ouvir a música dos MulherHomem através da plataforma Bandcamp.


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